26 jun, 2020
No próximo dia 1 de julho a presidência da UE passa para a Alemanha. Será a última presidência de Angela Merkel, que certamente quer deixar uma marca na história da integração europeia.
Ao autorizar emissão de dívida compartilhada, a Alemanha aceita a transferência de recursos entre países ricos do Norte e os mais pobres do Sul. A chanceler alemã abandonou velhos dogmas económicos, fez meia-volta e estendeu a mão à UE. A proposta da Comissão Europeia, que surpreendeu pela positiva a maioria dos Estados membros, não teria sido possível sem a nova e corajosa posição de Merkel.
Aliás, a mudança de orientação de Merkel também se nota no enorme programa de recuperação económica alemã lançado pelo governo federal. Os conservadores alemães, que detestam défices orçamentais, tiveram que arranjar uma boa desculpa: “nós tínhamos razão; se ao longo de anos não tivéssemos sido muito contidos na despesa pública, não poderíamos, agora, gastar tanto dinheiro no relançamento da nossa economia”.
Também é verdade que o principal partido da oposição no Bundestag (parlamento federal alemão), a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita e eurocética, não parece ter lucrado com a pandemia: as sondagens revelam uma AfD a descer.
Na semana passada A. Merkel alertou os deputados federais para o risco que a pandemia representa para o projeto europeu. Por isso, a prioridade da presidência alemã é obter um consenso sobre o fundo de recuperação económica.
O papel da Alemanha, acentuou Merkel, é impedir que a pandemia destrua o mercado único europeu, ameaçando a integridade da UE. Não será nada fácil convencer os chamados “países frugais”, com a Holanda à cabeça, a aceitarem um pouco mais de solidariedade europeia. Mas uma coisa é segura: Merkel lutará por isso como o último grande combate político da sua vida enquanto chanceler (primeiro-ministro).
Na linha da proposta franco-alemã acima referida, na próxima segunda-feira o presidente Macron irá à Alemanha encontrar-se com Angela Merkel, para coordenar estratégias com vista ao próximo Conselho Europeu – que, espera-se, desta vez será presencial, em Bruxelas a 17-18 de julho próximo. É o eixo franco-alemão de novo a funcionar.
Talvez seja demasiado optimista esperar que desta cimeira saia um consenso sobre o fundo de recuperação económica, pós-pandemia. Mas é de esperar que, pelo menos, este Conselho Europeu, que já não será por videoconferência, marque um avanço significativo em direção à unidade dos 27.