27 jun, 2020
Já se conhecem os candidatos a suceder a Mário Centeno na presidência do Eurogrupo, que junta os ministros das Finanças dos 19 Estados membros que fazem parte da zona euro. Menos conhecidos são os motivos que levaram Centeno a preferir governar o Banco de Portugal (hoje uma espécie de delegação do Banco Central Europeu) do que a presidir ao Eurogrupo, continuando a ser ministro das Finanças de Portugal.
Talvez os insuficientes avanços do Eurogrupo na arquitetura do euro tenham desiludido Centeno, que apostava em maiores progressos. Ou terá prevalecido a ligação anterior de Centeno ao Banco de Portugal e algum ajuste de contas. Mas não vou entrar em especulações.
São três os candidatos à sucessão de Centeno. A vice-presidente e ministra da Economia e Finanças de Espanha, Nadia Calviño, e os ministros das Finanças da Irlanda, Pascal Donohoe, e do Luxemburgo, Pierre Gramegna. A candidata espanhola tem o apoio do ministro das Finanças alemão, o social-democrata Olaf Schulz. O candidato irlandês apoiou a proposta franco-alemã, que abriu a porta à inesperada e ousada proposta da Comissão Europeia. E o candidato do Luxemburgo defendeu um orçamento para a zona euro. Três opiniões diferentes, mas abertas ao compromisso.
Na questão, hoje fulcral, de definir e financiar a ajuda da UE aos Estados membros da zona euro mais prejudicados pela pandemia a candidata espanhola parece a mais próxima das posições portuguesas. E seria a primeira mulher a presidir ao Eurogrupo.
Mário Centeno considerou este trio de candidatos à sua sucessão “um excelente grupo”. De facto, os três candidatos dizem visar o consenso e procurar a conciliação de opiniões diversas. O problema maior está em ultrapassar a oposição da Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia, a que se juntou a Finlândia, a dar aos países mais afetados pela pandemia subsídios a fundo perdido. A eleição realiza-se a 9 de julho e será decidida por por maioria simples – ou seja, 10 votos pelo menos.
O Eurogrupo é um órgão informal, que reúne à porta fechada e que não faz atas. E agrada aos países pequenos, pois cada ministro têm ali um voto. O seu papel foi importante na crise das dívidas soberanas, de que Portugal foi uma das vítimas. Antes, era quase ignorado. Agora terá menos influência, mas continua a ser um útil instrumento para debater posições diferentes, esbatendo essas diferenças antes de elas subirem ao Conselho Europeu.