03 jul, 2020
À última hora foi evitada a nacionalização da TAP. O Governo não a queria, naturalmente, pois iria implicar monumentais gastos do Estado nos próximos anos. Basta recordar que o BPN, um pequeno banco, foi nacionalizado em 2008 e de então para cá acumulou mais de 5 mil milhões de euros de prejuízos. E o exemplo das inúmeras empresas nacionalizadas em 1975 não evidenciou qualquer razoável capacidade de gestão empresarial por parte do Estado. Além isso, uma nacionalização iria certamente trazer um longo processo em tribunal, que dificultaria a estabilização da empresa.
Mas os contribuintes não podem ficar sossegados, pois parece muito difícil reestruturar a TAP, tornando-a lucrativa. Já aqui disse isto, antes da pandemia. Ora o coronavírus só veio tornar ainda mais complicado o problema da TAP. Por exemplo, todas as companhias aéreas querem agora reduzir o número de aviões que possuem; o que significa que os aviões que a TAP terá que vender a curto prazo serão a preço muito baixo.
Criada em 1945, esta empresa aérea de bandeira deu lucros enquanto pôde explorar o mercado cativo das colónias. Uma vez estas independentes, só pontualmente registou a TAP resultados positivos. Entre 2008 e 2018 a TAP perdeu dinheiro todos os anos, menos um (2017), acumulando na década perdas de 822 milhões de euros. E em 2019 os prejuízos atingiram 105 milhões de euros.
Durante anos foi defendido que a solução seria uma aliança da TAP com outra, e de preferência grande, companhia aérea. É o que algumas outras empresas de bandeira fizeram. Mas a TAP não o fez, pois falharam várias hipóteses; e agora, com a crise da pandemia, será altamente improvável que o consiga fazer.
Portugal possuir uma companhia aérea de bandeira tem claras vantagens estratégicas – para o turismo, para as relações com os PALOPs e com as comunidades de emigrantes portugueses espalhadas pelo mundo. Mas conviria que os contribuintes nacionais fossem atempadamente informados sobre quanto irão pagar de impostos para manter a TAP, tanto quanto for sendo possível prever. Isto, naturalmente, para além dos prejuízos pessoais e profissionais que o inevitável emagrecimento da companhia irá ter para os seus trabalhadores.