04 jul, 2020
“Sou totalmente a favor do uso de máscaras”, afirmou Trump há dois dias. Mas há poucos meses não era. Trump inicialmente desvalorizou a pandemia e, depois, apelou a que se fizessem menos testes, para não surgirem tantos infectados nas estatísticas. A caótica gestão (se este nome se pode usar) da crise pandémica nos EUA coloca Trump em má situação nas sondagens.
Só que daqui até 3 de Novembro, dia da eleição presidencial, as coisas podem mudar. Há quatro anos muita gente previa a vitória de Hillary Clinton, mas quem ganhou foi Trump (embora com menos 3 milhões de votos do que H. Clinton, dado que as eleições presidenciais não são diretas).
Desta vez, o adversário de Trump é Joe Biden. Um político nada excecional, mas um homem decente, que está a conquistar a simpatia dos eleitores. Pelo contrário, há quatro anos Hillary Clinton não era estimada por boa parte dos seus potenciais eleitores. Aliás, a eleição de 3 de novembro próximo será sobretudo um referendo sobre Trump; quem não gosta da maneira como ele tem exercido a presidência quer pô-lo fora da Casa Branca; o sucessor é assunto secundário.
Ora as sondagens dizem que 37% dos americanos avaliam favoravelmente a presidência de Trump, mas 67% consideram que Joe Biden, que foi vice-presidente de Obama, tem um perfil adequado ao cargo. Por outro lado, a errática condução de Trump face à pandemia tem vindo a fazer com que ele perca apoio em eleitores brancos sem grau universitário.
Os dramáticos efeitos económicos das pandemia também retiram um trunfo a Trump – antes, a economia americana estava a crescer bem, com o desemprego a cair. Mas tudo mudou com o coronavírus. Em junho Biden angariou mais apoios financeiros do que Trump.
Depois, multiplicam-se as críticas a Trump por parte de militares que inicialmente com ele colaboraram. O livro de John Bolton, um civil que foi o principal conselheiro de segurança da Casa Branca, é fatal para o presidente. E Bolton não é de esquerda; pelo contrário, é de extrema-direita.
Ao contrário do que aconteceu há quatro anos, agora Trump é bem conhecido dos americanos. Se estes decidirem reelegê-lo, não será por falta de informação. Teremos de respeitar essa eventual decisão, por muito que ela seja trágica para o futuro da democracia liberal no mundo.