15 jul, 2020
Independentemente das preferências ideológicas sobre monarquia ou república, é indiscutível que o ex-rei de Espanha, Juan Carlos, contribuiu para a consolidação da monarquia espanhola. Quando em 1969 Franco o designou para futuro rei as expectativas eram muito baixas.
Previa-se que um rei nomeado por Franco, que a partir de certa altura orientou a sua educação, iria manter a política do ditador. Tanto mais quanto Juan Carlos tinha vivido a sua infância e juventude em Portugal, que não era uma democracia. No Estoril estava exilado o seu pai, o Conde de Barcelona, que deveria ser o herdeiro do trono. Mas Franco entendia-se mal com o Conde de Barcelona, por isso apostou no filho.
Ora o jovem Juan Carlos I, rei desde 1975, não seguiu a orientação ditatorial de Franco. E em 1981 travou, na TV, uma tentativa de golpe de Estado militar. Salvou a democracia espanhola.
Essa é a parte positiva. A negativa é a tendência de Juan Carlos I para se envolver em negócios financeiros mais do que duvidosos. Foi por causa da reação negativa da opinião pública espanhola a essa situação que em 2014 abdicou no seu filho, Filipe VI.
A família real também havia tido que aceitar a prisão do marido de uma das filhas de Juan Carlos, acusado e condenado por graves irregularidades. Em Março passado Filipe VI declarou recusar qualquer futura herança – uma maneira de se distanciar do pai. O comportamento de Filipe VI nesta delicada situação tem sido corajoso e não merece críticas.
É que, mesmo na condição de rei emérito, Juan Carlos não terá deixado de se meter em operações ilegais envolvendo dinheiro, incluindo alegadas fugas ao fisco. Segundo a imprensa espanhola, um caso lamentável, com alguns traços sórdidos, como o papel alegadamente desempenhado nessas negociatas recentes por uma sua ex-amante, que parece querer agora vingar-se de ser ex. E as autoridades suíças investigam presumíveis branqueamentos de capitais.
Enfim, um triste fim para um ex-chefe de Estado. E que aumentará em Espanha o número dos que querem substituir a monarquia por uma república. Um passo arriscado, quando há fortes ameaças, sobretudo da Catalunha, à unidade do país.