05 set, 2020
O Mediterrâneo oriental enfrenta o problema, muito difícil de ultrapassar, da desintegração do Líbano. E nas últimas semanas reapareceu um conflito secular, o confronto entre a Turquia e a Grécia, agora em torno da delimitação de águas territoriais. A Turquia enviou navios de guerra e aviões para junto de áreas do Mediterrâneo com potencial em petróleo e gás natural. A Grécia opõe-se e o risco de confronto militar vai subindo.
A Turquia pesquisa petróleo no mar junto à parte da ilha de Chipre, que ocupou em 1974. A outra parte de Chipre é independente, pró-grega e entrou na UE em 2004. A parte de Chipre pró-turca também se proclama independente, mas não é reconhecida internacionalmente e recusou entrar na UE, ao contrário da parte grega.
Se os EUA não tivessem abandonado a sua liderança mundial, provavelmente a tensão greco-turca iria desvanecer-se com o envio de um porta-aviões americano para a zona. Uma intervenção de Trump a menos de dois meses de eleições é impensável. Só Macron tem procurado apoiar a Grécia contra a agressividade de Erdogan, mas os seus meios são limitados.
Assistir a um conflito, que pode descambar em guerra entre dos países membros da NATO, é mais um sinal da “nova desordem” internacional. Mas a hostilidade entre turcos e gregos é muito antiga.
No séc. XV o império otomano, de religião islâmica, ocupou o que é hoje a Grécia. E os gregos só alcançaram a independência há dois séculos (1828); a longa “colonização” turca, ou otomana, explica boa parte da desconfiança grega em relação aos turcos.
A Turquia tornou-se um Estado independente a seguir à I guerra mundial, que desfez o império otomano. E o líder da independência turca, Ataturk, chegou ao poder combatendo, com sucesso, a invasão grega da Ásia menor.
A hipótese de o longo conflito entre a Grécia e a Turquia ser ultrapassado com a adesão de ambos os países à UE é hoje uma quimera. A Grécia é membro da UE desde 1981, ajudada pelo então presidente da França, Giscard d’Estaing. Pelo contrário, as negociações para a entrada da Turquia na UE não avançaram e seriam impossíveis com o atual presidente turco Erdogan, que limitou os direitos e as liberdades no seu país, voltando-se para o mundo muçulmano.
Mas, repito, Grécia e Turquia são membros da NATO. A hostilidade recíproca dos dois países coloca à Aliança Atlântica problemas delicados. Até porque as forças armadas turcas são as mais poderosas da NATO, depois das americanas.
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