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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Turismo e viagens

19 fev, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Antes da pandemia, criticávamos o excesso de turistas. Agora, que eles desapareceram, ansiamos que eles voltem. Mas nada haverá a mudar na política turística? A pandemia deitou abaixo o sector da aviação. É que os turistas eram os seus principais clientes. E a recuperação do turismo e das viagens aéreas depende do tempo durante o qual o coronavírus continuará a atormentar-nos

Há dois anos, muitos de nós se queixavam do excesso de turistas. Bairros tradicionais, como, por exemplo, Alfama, em Lisboa, perdiam os seus residentes, dando lugar a casas para utilização breve por visitantes estrangeiros, “alojamentos locais” sobretudo. Se isso permitiu a reabilitação de alguns edifícios degradados, descaracterizou Alfama e expulsou muitos dos que lá viviam para fora de Lisboa.

Portugal tardou a reagir a este fenómeno, já enfrentado em cidades italianas e em Barcelona. Agora, que não há turistas, é altura para pensar se queremos apenas que eles voltem ou se pretendemos limitar o turismo de massas e como. Mas ninguém fala nisso. Parece sensato apostar menos em sol e praia e mais em turismo ecológico. De norte a sul Portugal tem uma grande variedade de paisagens e ambientes rurais, quando não são destruídos pela construção selvagem.

O turismo valia 17% do PIB português antes da pandemia. Um número excessivo, até porque, como se viu, de um dia para o outro pode baixar para praticamente zero, como baixou. O turismo emprega muita gente direta e indiretamente, o que pode levar a que nos concentremos apenas em relançar o sector, regressando à situação anterior. Mas a OCDE prevê que o turismo estará entre os sectores da atividade económica que mais lentamente irá recuperar a procura perdida.

Aliás, o prolongamento da pandemia torna improvável uma recuperação significativa do turismo no próximo verão. Um ministro britânico alertou os seus compatriotas para que ainda é demasiado cedo para fazer reservas para o verão. O que levou a EasyJet (a segunda maior companhia europeia de aviação “low cost”, depois da Ryanair) a protestar energicamente. Só que, infelizmente, a descoberta de novas e mais perigosas variantes do coronavírus levou a adicionais cancelamentos de voos.

O turismo tem sido um grande utilizador da aviação. Calcula-se que 55% das viagens aéreas ao estrangeiro eram em 2019 viagens de férias. As viagens de negócios ou profissionais foram apenas 11% do total. E aqui a multiplicação de vídeo conferências durante a pandemia, e que certamente será um meio mais utilizado no futuro próximo, mesmo sem pandemia, não ajudará a recuperação de viagens profissionais por via aérea.

As companhias de aviação “low cost” foram um factor decisivo no aumento do turismo estrangeiro em Portugal. Agora estão em crise, como a generalidade do sector da aviação. Os gestores das “low cost” acreditam que elas irão recuperar mais depressa do que as outras empresas de aviação. Motivo: as “low cost” exploram sobretudo voos menos longos. Mas são os voos intercontinentais, mais longos, os que permitem maiores lucros às companhias.

A propósito: não creio que a gravíssima situação da TAP, sendo prejudicial para o turismo estrangeiro no nosso país, tenha uma influência determinante para o sector turístico. Tenho é muitas dúvidas sobre como poderá a nova e mais pequena TAP recuperar viabilidade económica, se a TAP só foi lucrativa quando explorava os voos para as então colónias. Mas essa é outra questão.

Nas últimas décadas o transporte aéreo de passageiros cresceu muito. Até à pandemia, os aviões transportaram três quintos das viagens internacionais, contra 5% em navios e apenas 1% no caminho de ferro. Mas os comboios voltam a ter importância, por causa da tendência para as companhias aéreas abandonarem os voos muito curtos e também por razões ecológicas. Daí o aviso do prof. António Costa e Silva, na visão estratégica sobre o futuro da economia portuguesa apresentada em setembro último, lembrando ser indispensável uma linha de caminho de ferro de alta velocidade entre Porto e Lisboa, porque o voo entre as duas cidades é demasiado curto para o transporte aéreo comercial, que provavelmente o abandonará.

A Comissão Europeia apresentou uma proposta para relançar o caminho de ferro na Europa. Pode vir a ser um impulso para que Portugal finalmente modernize o seu caminho de ferro, algo de que há décadas se fala, mas pouco se fez. As viagens de comboio serão mais importantes para o turismo estrangeiro em Portugal do que eram no passado recente.

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