05 mar, 2021
O aeroporto de Lisboa só não está a rebentar pelas costuras porque a pandemia reduziu brutalmente as viagens aéreas. Mas agora volta a ser discutida a solução que se julgava já assente e definitiva: Portela+Montijo. Desta vez, o quase colapso da aviação comercial traz para a discussão uma nova incógnita: como será o transporte aéreo daqui a dez ou vinte anos?
Digamos que o debate sobre o aeroporto ou aeroportos que devem servir Lisboa já se tornou entre nós um hábito. Desde 1969, há mais de cinquenta anos, que o tema é discutido, analisado, estudado... Produziram-se perto de trinta pareceres. Mais quantos anos teremos de esperar até surgir uma solução realmente definitiva? Não sabemos. Recorde-se que ainda terá de haver uma avaliação ambiental estratégica do futuro aeroporto.
Volta a falar-se de Alcochete, mas também da Ota e até de Beja. Em setembro do ano passado António Costa afirmou: “não será a pandemia a alterar um projeto considerado necessário há mais de cinquenta anos”. Só que a Autoridade Nacional para a Aviação Civil (ANAC) chumbou o aeroporto no Montijo porque duas autarquias da zona, Seixal e Moita, se opõem à prevista localização. De facto, uma lei absurda e ainda não revogada permite que uma câmara bloqueie a realização de um qualquer projeto de interesse nacional.
Em entrevista à Renascença, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Aires, interroga-se sobre o que terá levado a ANAC, um regulador independente, a levar tanto tempo a anunciar a sua decisão (baseada na oposição daquelas duas câmaras); e admite que pode ter sido para “ganhar tempo”, num processo que classifica de “estranho e algo opaco”.
O bloqueio das câmaras vai desaparecer, pois o PSD juntar-se-á ao PS na eliminação daquela disposição legal, uma vez que, como salientou Rui Rio, o Governo avançou com várias hipóteses de localização do novo aeroporto. Ora há quem veja aqui um bluff governamental, talvez com a colaboração da ANAC.
Pedro Sousa Carvalho, diretor executivo do jornal “on line” ECO, escreveu: “O Governo está a fazer bluff. É grave, mas é ainda mais grave se não estiver a fazer bluff e estiver a considerar genuinamente a opção Alcochete. A opção Alcochete não está em cima da mesa: é longe, traz mais problemas de acessibilidades e, como disse o próprio Costa, seria andar para trás 7 anos. E é uma opção cara”. Por outro lado, presumo que alguns dos que investiram muito dinheiro a comprar terrenos nas imediações do aeroporto do Montijo se movimentem no sentido de não serem desvalorizados esses terrenos.
A ANA, Aeroportos de Portugal, pertence agora aos franceses da Vinci, que se comprometeram a financiar a construção do aeroporto complementar do Montijo. Uma solução diferente – não no Montijo, ou mesmo no Montijo mas como aeroporto principal e não complementar - levará a ANA a exigir do Estado qualquer coisa como 8 mil milhões de euros, que sairão do bolso dos contribuintes, como afirmou o presidente do seu Conselho de Administração, José Luís Arnaut.
Para gastarmos o dinheiro de todos nós em aviação comercial, bem basta o que irá para a TAP – e durante muitos anos.