10 mar, 2021
Há 10 anos, mais precisamente a 11 de março de 2011, um maremoto atingiu a central nuclear de Fukushima, no Japão. Morreram quase 20 mil pessoas e mais de cem mil casas foram destruídas.
É certo que a maior parte destas vítimas foi causada pelo maremoto e não por radiações nucleares. Mas estas, vindas da central de Fukushima, ainda hoje matam pessoas no Japão. O mesmo se diga da explosão da central nuclear de Chernobil, em 1986.
Fukushima acentuou o receio da energia nuclear. Antes desta catástrofe dois terços dos japoneses queriam continuar e até aumentar a eletricidade produzida em centrais nucleares, apesar do horror de Hiroshima e Nagasaki (1945); depois de Fukushima, a maioria dos japoneses está contra o nuclear. Assim, até hoje apenas nove dos 54 reatores nucleares do Japão foram reativados; muitos deles não voltarão a funcionar.
Por causa de Fukushima, Merkel decidiu fechar gradualmente as centrais nucleares existentes na Alemanha.
Mas a China prosseguiu a construção de centrais nucleares para o fornecimento de eletricidade; a ditadura do partido comunista chinês não dá grande importância aos receios dos chineses, enquanto as democracias não podem desprezar as opiniões públicas.
A energia nuclear tem sérios riscos, mas não contribui para a emissão de CO2. Ora, felizmente, as opiniões públicas de muitos países democráticos estão hoje mais conscientes da urgência de defender o ambiente e travar as alterações climáticas.
Porque não, então, voltar a apostar no nuclear para a produção menos poluente de energia elétrica? Seria um passo importante se levasse a uma forte descida na utilização de carvão, petróleo e gás natural na produção de eletricidade.
Essa posição é defendida, por exemplo, por Bill Gates. E também pelo semanário britânico “The Economist”, afirmando que centrais nucleares bem reguladas não são perigosas.
Julgo que Bill Gates e o “Economist” são demasiado otimistas quanto aos riscos da energia nuclear. Pensava-se que os japoneses eram muito competentes e teriam tomado todas as precauções nas suas centrais nucleares.
Mas em Fukushima falharam, ao não preverem a possibilidade de um maremoto provocar inundações que atingiram os reatores da central, bloqueando o seu sistema de refrigeração. É impossível prever tudo.
Por outro lado, não está cabalmente resolvido o problema dos resíduos nucleares, que permanecem radioativos durante uma eternidade. A prática corrente é enterrar bem fundo esses detritos. Mas o que poderá acontecer daqui a várias gerações, em caso por exemplo de um terramoto?
É uma herança muito perigosa, que o princípio da precaução desaconselha. O imperativo de justiça entre gerações, que obriga a zelar pelo ambiente, não exclui gerações que possam surgir daqui a milhares de anos.
Em Portugal há um consenso, não unânime, mas bastante alargado, quanto a não recorrer ao nuclear. O que não nos evita os seus riscos. É o caso, tantas vezes falado, da central nuclear espanhola de Almaraz, junto ao Tejo e a 100 quilómetros da fronteira portuguesa.
A construção de um aterro para os detritos radioativos dessa central, um “cemitério” nuclear, pode contaminar as águas do rio, que irão entrar em Portugal. Além disso, trata-se de uma central que começou a funcionar em 1981, tendo, portanto, 40 anos.
Ora, 30 anos é o período normal de vida de uma central nuclear e em Almaraz já se registaram vários incidentes preocupantes.