12 mai, 2021
A Escócia uniu-se a Inglaterra em 1707, há mais de trezentos anos. Antes disso, as duas nações eram independentes. Os escoceses travaram duas guerras sangrentas com os ingleses nos séculos XIII e XIV para manterem a sua independência. Agora a Escócia parece querer recuperar a independência.
Num referendo em 2014 a maioria dos escoceses (58%) opôs-se à independência. Só que o Brexit veio dar um grande impulso ao independentismo escocês: 62% dos votantes escoceses eram partidários de o Reino Unido ficar na UE. Perderam. Por isso querem permanecer na UE como Estado independente. Não será fácil.
É certo que na semana passada o Partido Nacional Escocês (NSP) ficou a um deputado da maioria absoluta no parlamento da Escócia; basta-lhe juntar os deputados verdes para poder afirmar que naquele parlamento existe uma maioria clara favorável à independência. Só que a realização de um novo referendo na Escócia sobre a independência depende de uma autorização do parlamento central do Reino Unido, a Câmara dos Comuns. Boris Johnson dispõe de uma sólida maioria nesta Câmara e assim irá travar um referendo na Escócia enquanto politicamente for capaz.
É curioso que a autonomia política das várias nações que compõem o Reino Unido começou com a “home rule” (autonomia política, mas não independência) atribuída à Irlanda em 1886, quando era uma espécie de colónia britânica. Hoje é o Ulster (Irlanda do Norte) que aplica a “home rule”, assim como a Escócia e o País de Gales. Mas os ingleses não têm um parlamento próprio – o seu parlamento é a Câmara dos Comuns, onde têm também assento deputados eleitos pela Escócia, País de Gales e Ulster...
Por outro lado, a Escócia tem beneficiado de uma considerável transferência financeira do resto do Reino Unido. O que permite aos escoceses terem universidades nas quais não pagam propinas, cuidados gratuitos de saúde, medicamentos grátis, etc. O governo escocês até promete um rendimento universal básico e irá ponderar uma semana de trabalho de apenas quatro dias.
Tudo isto carece de dinheiro, muito dinheiro. E o petróleo do Mar do Norte, de cujas receitas o governo escocês se queixava de receber apenas uma pequena parte, está em vias de esgotamento. Assim, se a independência da Escócia se concretizar, os escoceses pagarão mais impostos ou terão que renunciar a vários benefícios sociais.
Acresce que uma fronteira entre o Norte de Inglaterra e a Escócia irá trazer inúmeros obstáculos económicos a empresas dos dois lados da fronteira, que será uma fronteira exterior da UE se a Escócia independente se tornar membro da Europa comunitária, como proclama o NSP, partido nacional escocês.
Mas o NSP também enfrentará obstáculos externos a uma eventual adesão à UE. A Espanha, país membro da UE, não permite um referendo na Catalunha sobre a independência, tudo fará para impedir essa adesão. Madrid não reconhece, por exemplo, a independência do Kosovo.
Concluindo: a independência da Escócia não acontecerá tão cedo, se é que algum dia irá acontecer. E não é sequer seguro que um eventual novo referendo na Escócia tenha um resultado diferente do referendo de 2014, que recusou a independência.