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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Eleições em França

30 jun, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


As eleições locais e regionais em França, nos últimos dois domingos, ficaram marcadas por uma enorme abstenção. A principal derrota foi do partido de Marine Le Pen, adversário da integração europeia e hostil aos imigrantes.

É portuguesa uma das maiores comunidades de imigrantes em França. No entanto, tiveram escassa repercussão na nossa comunicação social as recentes eleições locais e regionais francesas. Foram eleições em duas voltas, como é habitual naquele país; na primeira volta ganha quem tiver mais de 50% dos votos; não havendo vencedor à primeira volta, passam para a segunda volta os dois mais votados.

Ora o partido anti-europeu e anti-imigracão de Marine Le Pen teve uma clamorosa derrota nestas eleições. Perdeu até na região da Provença-Alpes-Costa Azul, onde se inclui Marselha, não conseguindo ganhar em qualquer eleição local ou regional. Na primeira volta o candidato de Le Pen naquela eleição, Thierry Mariani, tinha sido o mais votado na região, mas ficou-se pelos 36%; mas na segunda volta a esquerda apoiou o candidato de centro-direita, Renaud Muselier, que assim venceu na segunda volta, com 56%, contra 44% para T. Mariani.

O sistema francês de eleições em duas voltas (caso ninguém obtenha mais de 50% dos votos na primeira volta) é, como se vê, útil para travar candidatos extremistas.

Por outro lado, o partido de Macron, presidente da República, voltou a mostrar grande debilidade – parece só contar na zona de Paris. Este partido foi ultrapassado por candidatos de centro-direita, que poderão passar à segunda volta nas eleições presidenciais do próximo ano. Ou seja, nessas eleições o duelo final e decisivo, na segunda volta, afinal talvez não seja entre Macron e Marine Le Pen.

Macron surgiu como um furacão na alta política francesa em 2017. Ganhou as eleições presidenciais desse ano e fundou um novo partido, o “Em marcha”, que obteve uma confortável maioria absoluta parlamentar nas eleições legislativas, um mês após as presidenciais.

Mas nos últimos tempos Macron tem vindo a perder apoiantes e até colaboradores próximos. Enfrentou o movimento hostil espontâneo dos “coletes amarelos” em 2018-2019, mas parece não ter recuperado o “élan” que o levou ao Eliseu, palácio onde residem os Presidentes de França.

Estas eleições locais e regionais em França ficaram também marcadas por um dado muito negativo: uma enorme abstenção, tendo nelas votado apenas cerca de um terço dos eleitores. O afastamento da política por parte dos franceses terá que ser combatido pelos políticos do país. Se não tiverem êxito nesse combate, a democracia francesa ficará abalada – o que só poderá interessar aos não democratas.

Comentários
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  • António J G Costa
    02 jul, 2021 Cacém 01:43
    O afastamento de mais de 60% das pessoas dos processos eleitorais é deveras preocupante. A mentalidade de que só se recebe. A mentalidade de que só existem direitos e não deveres. Os dirigentes não são todos iguais, e nas Democracias podem-se criticar e muitas vezes caluniar sem qualquer razão. Nas Ditaduras o não vir a correr para a rua, para aplaudir o "Grande Dirigente" ou o "Grande Timoneiro", espontaneamente, acaba mal. Quase sempre.
  • Maria Oliveira
    30 jun, 2021 Lisboa 19:56
    Macron não conseguiu fazer as reformas que pretendia, devido à contestação nas ruas, por vezes muito violenta, protagonizada pelos "coletes amarelos". Margaret Thatcher, que também sofreu forte contestação, conseguiu levar a cabo as reformas que se propôs e que mudaram quase totalmente a economia do Reino-Unido. Não se discute a bondade das medidas, mas sim a capacidade de as pôr em prática. Margaret Thatcher nunca recuou. Hoje, os dirigentes políticos receiam a impopularidade e a consequente perda de votos.