02 ago, 2021
Portugal perdeu cerca de 2% da população residente no continente entre 2011 e o ano corrente, apesar da imigração. Metade da população do continente português reside em apenas 31 concelhos do litoral, num total de 278 municípios do continente. É o que ressalta dos dados, ainda preliminares, do censo de 2021 comparado com o de 2011. A única exceção é o concelho de Braga (subida de 6,5% dos residentes), que não se situa no litoral, mas nem fica longe do mar.
No próprio litoral registaram-se quebras demográficas. Foi o caso, nomeadamente, de Viana do Castelo (menos 3% em dez anos), Caminha (menos 5%), Cantanhede (menos 6,5%), Figueira da Foz (menos 5%), Pombal (menos 7,4%). Todos os concelhos do Alentejo, incluindo os do litoral, perderam população, excetuando Odemira, onde terá jogado o fator imigração para trabalhos agrícolas intensivos.
Nos concelhos com fronteira com Espanha a quebra de residentes foi geral, de Castro Marim, no Algarve, até Valença, no Minho. Será, então, que as cidades do interior compensaram as perdas das zonas rurais? As hipóteses de recuperar a população das aldeias há muito que são realisticamente nulas; mas parecia possível a aposta de concentrar nas cidades do interior a batalha contra a desertificação. Só que, pelo menos até hoje, nada se progrediu nesse sentido, pelo contrário.
Viseu logrou manter a população residente, mas é caso único. Cidades como Vila Real, Guarda, Covilhã e Évora perderam residentes, não obstante terem agora estabelecimentos de ensino superior.
Estes números tornam evidente a fantasia da luta contra a desertificação do interior que sucessivos governos nos têm tentado impingir. A desertificação do interior não apenas se acentuou na última década como alastrou ao próprio litoral. Agravou-se a concentração demográfica em torno das principais cidades, como Lisboa e Porto, afetando aí a qualidade de vida dos residentes, com mais poluição e mais engarrafamentos na circulação automóvel.
Nessas zonas sobrepovoadas faltam habitações acessíveis à maioria da população, enquanto nas aldeias do resto do país milhares de casas permanecem fechadas. Algumas abrirão para acolher o regresso, para férias, de emigrantes portugueses na Europa; mas no corrente ano e em 2020 em muitos casos nem isso, pois a pandemia travou esse regresso temporário.
A “bazuca” europeia oferece-nos uma enorme quantidade de dinheiro. Se, agora, uma parte desse dinheiro não vai para travar e inverter estas funestas tendências demográficas, melhor será os políticos deixarem de falar em combater a desertificação. O facto é que, até hoje, ainda não surgiu uma estratégia credível nesse sentido.