18 ago, 2021 • Francisco Sarsfield Cabral
A rapidez da tomada do poder pelos taliban no Afeganistão surpreendeu toda a gente, a começar pelos críticos da retirada dos militares dos EUA. Praticamente não houve batalhas entre as forças governamentais do Afeganistão e os taliban.
A vitória dos taliban terá sido longamente preparada, implicando negociações com os vários “senhores da guerra” e líderes tribais, que assim não se opuseram à sua operação relâmpago de tomada do poder. Quanto ao exército, treinado, financiado e equipado pelos militares da NATO, não ofereceu qualquer resistência digna de nota – apesar de os seus efetivos serem quatro ou cinco vezes superiores em número aos combatentes taliban.
Era previsível esta recusa a combater, pois foi o que se viu há poucas semanas atrás, como aqui na altura referi. Os soldados eram pagos com atraso, mal alimentados e sentiam-se abandonados por quem mandava em Cabul. Por isso houve fugas e deserções em massa de soldados, teoricamente dependentes do presidente Ashraf Ghani.
Fugindo no momento em que os taliban entravam em Cabul quase sem dispararem um tiro, o presidente afegão tornou evidente aquilo que se anunciava: não é possível mobilizar contra os fanáticos da teocracia islâmica um povo cujos líderes não lutam pela sua liberdade. Nesse sentido, o que se passou no Afeganistão nos últimos dias confirma o acerto de J. Biden ao anunciar a retirada das suas tropas, vinte anos depois de ali terem chegado.
A posição de Biden não foi improvisada – há dez anos que ele criticava a permanência dos soldados americanos naquele país.
Claro que Biden se enganou quando disse esperar alguma resistência aos taliban por parte do corrupto e incompetente governo afegão. Biden acreditou nas palavras de Ashraf Ghani, que lhe garantira que o seu exército combateria os taliban. Viu-se...
Por outro lado, estranha-se a incapacidade dos militares americanos ali instalados desde há vinte anos e dos serviços de informação dos EUA para preverem e prevenirem o que se passou.
Confirma-se a dificuldade dos americanos para lidarem com culturas muito diferentes da sua. Viu-se no Vietname, no Iraque e agora no Afeganistão. Mais uma razão para os EUA porem um ponto final a estas mal sucedidas guerras em territórios cuja população não entendem.
São credíveis as promessas dos taliban de que se comportarão agora com moderação? Só o passar do tempo responderá a tal questão. Já a obrigação moral de acolher refugiados afegãos no Ocidente, incluindo em Portugal, não pode ser iludida.