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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A novidade do Papa Francisco

20 set, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O Papa foi à Hungria e à Eslováquia. Num ambiente à partida pouco recetivo, o Papa insistiu na abertura aos outros. E na Eslováquia foi ao encontro dos “descartáveis”, os ciganos.

Na sua visita à Hungria e à Eslováquia o Papa Francisco repetiu os seus apelos à abertura aos outros, em especial aos mais desfavorecidos. Porventura prevendo que o Papa não iria trazer grandes novidades, alguns órgãos de comunicação social portugueses não cobriram esta visita papal. Não foi esse o caso da Renascença, claro, que noticiou amplamente essa visita.

Se naqueles países o Papa repetiu o seu conhecido discurso, a verdade é também que o fez em ambientes à partida pouco recetivos. Por exemplo, o Governo da Hungria não quer receber refugiados nem imigrantes.

O Papa louvou o apego religioso dos húngaros, mas advertiu que a Igreja não é uma fortaleza. Evocando a cruz, Francisco chamou a atenção para que ela não tem apenas uma dimensão vertical, tem igualmente uma dimensão horizontal – os braços da cruz, que devem levar os cristãos a abraçar os irmãos, a começar por aqueles que a sociedade considera “descartáveis”.

Durante um encontro com os representantes do conselho ecuménico das igrejas e algumas comunidades judaicas da Hungria, o Papa apelou à integração e à educação para a fraternidade. Lembrou o Papa que o "antissemitismo, que ainda serpenteia na Europa e não só, é um rastilho que deve ser apagado".

Logo no seu primeiro discurso público na Hungria disse o Papa: "Sempre que houve a tentação de absorver o outro, em vez de construir, destruiu-se; e o mesmo se verificou quando se quis colocá-lo num gueto, em vez de o integrar. Quantas vezes aconteceu isto na história! Devemos estar vigilantes e rezar para que não volte a suceder",

Na mais longa visita à Eslováquia o Papa Francisco não se limitou a lembrar o imperativo de acolher os marginalizados – foi ao seu encontro, deslocando-se a zonas urbanas muito pobres e degradadas onde vivem ciganos. Compreende-se a grata surpresa daqueles ciganos, nada habituados a que um ilustre visitante estrangeiro os vá visitar e conhecer.

Na viagem de avião de regresso a Roma o Papa falou com os jornalistas. Disse não compreender o ceticismo manifestado por algumas pessoas perante as vacinas contra a Covid-19 e salientou que a “humanidade tem uma história de amizade com as vacinas”.

Nessa conversa com os jornalistas foi por estes abordado o debate que decorre na Igreja americana, nomeadamente entre os bispos, sobre se estes devem, ou não, recusar dar a comunhão a políticos católicos que defendam publicamente o aborto. Entre estes políticos está Joe Biden.

O Papa voltou a condenar o aborto, uma vez que ele implica a destruição de uma vida humana. Mas quanto a recusar a comunhão a políticos católicos que aceitem o aborto, afirmou: “Olhando para a história da Igreja, podemos ver que sempre que os bispos não agem como pastores quando enfrentam um problema acabam por tomar posições políticas. Isto não é pastoral”.

Esclareceu ainda o Papa: “O que deve fazer um pastor? Ser pastor. Não é andar por aí a condenar. Devem ser pastores ao estilo de Deus, o que implica proximidade, compaixão e carinho. Um pastor que não sabe como agir ao estilo de Deus escorrega e acaba por entrar em muitas áreas que não são as do pastor”.

Em suma, uma dupla viagem do Papa cheia de motivos de interesse para os católicos e não só.

Comentários
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  • António J G Costa
    20 set, 2021 Cacém 20:07
    O Bom Pastor deve cuidar bem das suas ovelhas. Principalmente não as abandonar aos lobos. Por isso usa o cajado, que tanto serve, para apoio como para defesa. Num documentário, sobre o Afeganistão (estão na moda) ouvi um "provérbio?" tajique (norte do Afeganistão) : " A misericórdia para com o lobo significa a morte do cordeiro". Dá que pensar. Pensar na missão do Pastor, numa época em que é politicamente correto considerar os lobos, como uma espécie de ovelhas.
  • Desabafo Assim
    20 set, 2021 porto 12:04
    A moeda de César e a primeira pedra eram volta sem retorno, garantido e mais que garantido o seu sucesso, pois de onde estás vieram? Não estava garantida a recusa neste caso? Como pode homem algum ter tanta sapiência? Como é possível?