19 nov, 2021
Há anos que muitas tarefas agrícolas, em estufas nomeadamente, e na construção civil são executadas por imigrantes, pois os trabalhadores portugueses não se mostram disponíveis para essas atividades.
Recentemente a indisponibilidade alastrou a muitos outros sectores. A falta de pessoal afeta hoje inúmeras empresas. A hotelaria e a restauração, por exemplo, procuram imigrantes para poderem funcionar. Será que aumentou o número dos trabalhadores que preferem manter-se desempregados e a receber um subsídio de desemprego que é modesto?
Certo é que o salário médio dos portugueses é baixo, ficando cada vez mais próximo do salário mínimo. A conjuntura, nacional e internacional, até se mostra hoje favorável a uma valorização dos salários, que poderão recuperar de longos anos durante os quais perderam peso face ao capital. Mas, entre nós, ainda não existem sinais seguros da subida dos salários, não obstante a falta de pessoal para trabalhar.
Até nas empresas exportadoras, que lograram conquistar quotas de mercado no exterior, a predominância dos salários baixos é uma realidade. Mais de metade do emprego (55%) ligado à exportação é de baixas qualificações, escreveu Rui Tavares no “Público” (são números de 2014, mas não há mais recentes). Em Espanha é apenas um terço e na Grécia um quarto; na Polónia anda pelos 7%.
Por outro lado, o primeiro-ministro A. Costa reconheceu que a geração mais qualificada que sai das universidades portuguesas não encontra no país empregos adequadamente remunerados. Ou seja, mesmo nos escalões mais altos as empresas portuguesas, na sua maioria, pagam mal, não valorizando as qualificações académicas.
Também ao nível da gestão das empresas se nota a carência de pessoas com qualificações académicas. Só um terço das empresas portuguesas possui gestores com formação superior. “Se for às grandes empresas nacionais não vê muitos doutores (...). Nalgumas até não vê nenhum”. São palavras de Virgílio Machado, presidente da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, em entrevista à Renascença
Numa palavra, continuamos a competir com base nos salários baixos. Assim não iremos longe.