18 out, 2021
O referendo que levou o Reno Unido a sair da UE foi há mais de cinco anos. O resultado dessa consulta popular surpreendeu os próprios adeptos da saída britânica. Daí a notória falta de preparação dos governantes de Londres para lidarem com os problemas que eles próprios haviam criado, ao proporem o Brexit. A situação da Irlanda do Norte (Ulster) e o imperativo de manter aberta a fronteira com a República da Irlanda, compromisso do acordo de 1998 que pôs fim ao conflito entre protestantes e católicos naquele território, é o mais sério desses problemas.
A primeira-ministra Theresa May, que até havia votado pela manutenção do seu país na UE, assinou um acordo com Bruxelas segundo o qual o Reino Unido se manteria no mercado único europeu. Mas o primeiro-ministro que sucedeu a T. May, Boris Johnson, considerou inaceitável tal solução. Em dezembro de 2019 B. Johnson fechou um novo acordo com a UE, determinando que a Irlanda do Norte ficaria no mercado único europeu; o que implicava uma fronteira virtual entre aquele território e o resto do Reino Unido.
Na altura, B. Johnson considerou que esse acordo colocaria a Irlanda do Norte no “melhor de dois mundos”. Agora o governo de Londres quer alterar o acordo.
Não parece que B. Johnson esteja de boa fé. O seu antigo mentor e chefe de gabinete Dominic Cummings afirmou há dias que o primeiro-ministro nunca teve a intenção de aplicar aquele protocolo sobre a Irlanda do Norte...
Entretanto, a UE já apresentou substanciais concessões, nomeadamente eliminando medidas de controle sobre bens alimentares e farmacêuticos que entrem na Irlanda do Norte vindos do Reino Unido. Presume-se que tais bens não irão transitar depois para o continente europeu.
Mas o ministro do Brexit, David Frost, veio a Lisboa desvalorizar aquelas concessões e insistir na recusa de Londres de o Tribunal Europeu de Justiça vigiar a execução do protocolo sobre a Irlanda do Norte. Ora o semanário “The Economist” afirma que na Irlanda do Norte ninguém se preocupa com aquele Tribunal. Os partidos protestantes e pró-britânicos não gostam do acordo de 2019 porque receiam que ele incentive a Irlanda do Norte a ser integrada na República da Irlanda.
No fundo, o governo de Londres preocupa-se pouco com o que se passa no Ulster. Boris Johnson tem uma grande maioria na Câmara dos Comuns, não necessitando dos votos dos deputados da Irlanda do Norte. E continua a parecer que não negoceia de boa fé. O que prolonga absurdamente as negociações em curso.