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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Os bancos centrais e a inflação

10 dez, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A recente subida da inflação nos EUA e na Europa coloca aos banqueiros centrais decisões difíceis. Christine Lagarde parece mais otimista do que Jerome Powell.

O presidente da Reserva Federal (Fed), Jerome Powell, termina o seu primeiro mandato em fevereiro próximo. Mas Joe Biden renovou esse mandato, apostando nas qualidades de prudência e bom senso deste banqueiro central que não é economista (a sua formação universitária é jurídica).

Também Christine Lagarde, que preside ao Banco Central Europeu, não é economista, mas de formação jurídica. Claro que um banco central não dispensa um batalhão de economistas como assessores de chefes não economistas. A situação é comparável à de um ministro da Defesa - em democracia esse cargo não tem de ser ocupado por um militar.

Certo é que aos banqueiros centrais dos EUA e do euro se deparam delicadas decisões nos próximos tempos. A inflação subiu na economia americana.

Os preços subiram ali 6,2%, em outubro, em confronto com igual mês de 2020; em setembro a subida homóloga tinha sido de 4,4%.

Mas a criação de empregos nos EUA desacelerou muito em novembro. Ora a Fed também deve zelar pela pelo emprego (ao contrário do BCE, que formalmente deve atender apenas à manutenção do valor de compra da moeda, que a inflação corroi).

Acresce que a nova vaga pandémica ameaça multiplicar as falhas nas cadeias de distribuição, agravando a falta de mão de obra na economia americana – mais uma ameaça ao crescimento económico.

Perante sinais contraditórios como estes, Powell inclina-se para travar gradualmente os estímulos à atividade económica através da compra de títulos no mercado pela Fed.

Powell deixou de acreditar que a inflação nos EUA iria baixar no primeiro semestre de 2022. Depois, é provável que os juros da Fed subam.

Na Europa, Lagarde mantém a confiança de que a inflação é "temporária" e que vai baixar no próximo ano. Em novembro a taxa de inflação homóloga da Zona Euro aumentou pelo quinto mês consecutivo, tendo-se fixando nos 4,9%. Essa taxa é a mais alta desde que há informação disponível, ou seja, desde janeiro de 1997 (altura em que ainda não havia moeda única europeia).

No próximo ano Lagarde irá certamente reduzir a compra de títulos pelo BCE; a compra de ativos deve terminar em março. Mas não irá subir as taxas de juros do BCE. É que, "se o fizéssemos, bloquearíamos o crescimento que estamos a ter", explicou Christine Lagarde.

Para Portugal, são simpáticas as intenções da presidente do BCE.

Tendo sempre presente que, caso as expectativas de Lagarde não se concretizem, o BCE não hesitará em "agir".

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