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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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As incertezas da inflação

20 dez, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Apesar do optimismo do BCE, são muitas as incertezas sobre o comportamento dos preços ao longo do próximo ano. O que recomenda cautela com as subidas de salários.

2022 será um ano durante o qual muito se falará da inflação. Até há pouco, a preocupação com o nível de preços tinha sobretudo a ver com o receio de deflação, uma baixa generalizada dos preços, fatal para o crescimento da economia. Mas em 2021 a inflação regressou em força.

Nos EUA a subida do nível dos preços no consumidor manteve-se abaixo de 2% durante a maior parte do corrente ano. Mas nas últimas semanas regista-se uma subida de quase 8% em relação ao mesmo período de 2020.

Jerome Powell, o presidente da Reserva Federal (o banco central americano) rapidamente deixou de considerar transitória a inflação. A Fed acelerou a redução da compra de títulos no mercado e indicou que começará a subir juros em 2022, provavelmente ainda no primeiro semestre. Entretanto, o Banco de Inglaterra já subiu as suas taxas de juro de referência.

Diferente atitude tomou o Banco Central Europeu. O BCE irá reduzir, já a partir do primeiro trimestre de 2022, a sua compra de títulos. Mas não prevê eliminar totalmente esta intervenção, de que Portugal muito tem beneficiado. Christine Lagarde também não aponta para uma subida dos juros do BCE no próximo ano – a menos que a inflação na zona euro dê sinais de forte subida.

Mário Centeno congratulou-se com as “boas notícias” vindas do BCE. Mas persiste uma grande incerteza sobre o comportamento dos preços na zona euro nos próximos tempos.

A presente vaga de Omicron é também um fator de incerteza. Irá o novo vírus afetar a recuperação económica? Se tal acontecer, a inflação poderá abrandar – só que será um preço demasiado alto a pagar.

Em Portugal a previsão do governo para 2022 é de uma subida de 1,8% na inflação, o dobro da registada em 2021mas abaixo da média da zona euro. Mas a subida dos salários poderá desmentir esta previsão. Para se defenderem de uma inflação que “come” o poder de compra dos salários, os trabalhadores exigem um maior aumento dos salários nominais – só que correm o risco de a sua aposta sair furada.

Tempos de incerteza, portanto.

PS. Esta coluna fará umas curtas férias, devendo regressar a 3 de janeiro.

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