03 jan, 2022
Em novembro de 1989 caiu o muro de Berlin. O comunismo soviético entrara em colapso.
A vitória dos EUA na guerra fria levou a uma certa euforia entre os políticos norte-americanos, cujas consequências ainda hoje se fazem sentir. Assim, os neoconservadores que rodeavam o então presidente George W. Bush apelaram ao abandono do multilateralismo na política externa americana; segundo os neoconservadores, os EUA deveriam afirmar o seu poderio sem se prenderem a alianças ou a organizações multilaterais – ou seja, o inverso daquilo que os EUA fizeram após a segunda guerra mundial.
Nessa onda, George W. Bush mostrou-se publicamente favorável a que a Ucrânia e a Geórgia aderissem à NATO. 14 países que tinham vivido décadas integrados na órbita soviética entraram então na NATO, mas não a Ucrânia e a Geórgia. Nestes países a Rússia de Putin interveio militarmente para os manter fora da NATO.
Por isso se tornou inviável a hipótese de a Ucrânia fazer agora parte da NATO – pois tal obrigaria a uma intervenção militar da Aliança Atlântica para afastar as forças russas que anexaram a Crimeia e ajudaram e ajudam os ucranianos pró-russos no Leste do país. O que implicaria uma guerra nuclear, provavelmente.
Ao excesso de otimismo de Washington a seguir ao colapso do comunismo seguiu-se outro erro fatal: entre os vencedores da guerra fria esperava-se que a Rússia se tornasse uma democracia. Ora depois de anos de capitalismo selvagem e de caos social, Putin – um antigo agente do KGB – assumiu o poder político na Rússia. Trouxe alguma estabilidade ao país, mas à custa de uma drástica eliminação dos direitos e liberdades dos russos.
Hoje, a Rússia de Putin nem sequer é um Estado autoritário – é uma ditadura sem qualquer respeito pelos direitos humanos.
Pois é com o ditador Putin que os EUA e a NATO procuram agora um “modus vivendi” nas fronteiras da Rússia. Não poderão permitir que Putin faça na Ucrânia aquilo que fez na Bielorrússia, onde o tirano local, Lukashenko, depende hoje estreitamente de Moscovo. Nem é admissível que fechem os olhos às provocações de Putin nos países bálticos.
É assim muito estreita a margem para a NATO e os EUA tranquilizarem Putin, que se queixa de que a Rússia vive cercada de mísseis ocidentais. Putin evoca a crise de Cuba, em outubro de 1962, quando os EUA obrigaram a União Soviética a retirar daquele país mísseis que atingiriam território americano. Uma coisa é certa: Putin tentará dividir a NATO. Além de enfraquecer a liderança dos EUA.