24 jan, 2022
Há várias semanas que assistimos à queda política do primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Trata-se de um dos principais impulsionadores do “Brexit”, a saída do Reino Unido da UE. Assistir ao descalabro político deste personagem poderá funcionar como uma espécie de vingança da parte dos que perderam o referendo ganho pelos defensores daquela saída. Mas este espetáculo, que tem muito de caricato, é péssimo para a imagem da democracia.
Boris Johnson é um mentiroso nato, caraterística que era bem conhecida antes de ele se tornar primeiro-ministro. Não tem qualquer problema para este político dizer uma coisa e pouco depois fazer exatamente o contrário. Recorde-se, por exemplo, que Boris Johnson assinou um acordo com a UE sobre a manutenção da Irlanda do Norte no mercado interno da UE (para não fechar a fronteira com a República da Irlanda), acordo que logo quis rasgar.
O ainda primeiro-ministro britânico violou repetidamente as regras de saúde pública que ele próprio impôs a toda a população do Reino Unido. Ou seja, ele considera-se acima do comum dos mortais, sentindo-se livre para não respeitar aquilo a que estão obrigados os outros cidadãos.
Boris Johnson é um intelectual reconhecido. Escreveu, por exemplo, uma biografia de Churchill. Mas essa qualidade não o impede de revelar uma radical falta de seriedade no seu método de governar. Boris J. governa sobretudo por “slogans”, que aliás ele próprio se apressa em esquecer.
Mantendo-se se como primeiro-ministro, embora politicamente muito enfraquecido, Boris J. prejudica o seu partido, o seu país e a democracia representativa. É um presente que ele oferece aos anti-democratas, de Putin a Trump, passando por Erdogan e tantos outros autocratas.