09 fev, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral
Há dois dias escrevi aqui que o confronto entre a Rússia e a China de um lado e as democracias liberais, do outro lado, envolve uma dimensão militar. Essa dimensão, por parte das democracias, é essencialmente defensiva. A NATO é uma aliança defensiva, que venceu a guerra fria.
Assim, o recurso da NATO a meios militares tem uma finalidade de dissuasão. Os EUA enviaram meios militares para a Ucrânia, para os países bálticos e para a Polónia para dissuadirem a Rússia de atacar.
A Alemanha é um país membro da NATO que tem revelado alguma dificuldade em compreender essa dimensão militar dissuasora. Por exemplo, a Alemanha não autorizou que através do seu território passassem recursos militares defensivos destinados aos países ameaçados pela Rússia.
Até há poucos anos os alemães não enviavam tropas para missões de paz no estrangeiro. Agora já o fazem.
A relutância germânica compreende-se se tivermos em conta o passado trágico da Alemanha. Na primeira metade do século XX este país desencadeou duas guerras mundiais.
Foram particularmente mortíferos os combates dos alemães contra os russos na segunda guerra mundial. Talvez por isso a política externa alemã, desde Willy Brandt, procurou ter boas relações com a União Soviética.
Depois do colapso do comunismo soviético essa atitude amigável manteve-se relativamente à Rússia de Putin. Registaram-se exageros condenáveis, como foi a passagem de um ex-chanceler alemão, Gerhard Schroeder, para destacado gestor petrolífero na Rússia. Hoje G. Schroeder é um amigo de Putin, pago por ele para defender as políticas deste autocrata, incluindo as intervenções armadas russas no Leste da Ucrânia, na Crimeia e na Geórgia.
Acresce que, no sector da energia, a Alemanha se tornou muito dependente do gás natural russo. O atual primeiro-ministro (chanceler) Olaf Scholz tarda em tomar uma posição firme perante as ameaças russas à Ucrânia.
O presidente Biden afirmou que o gasoduto Nord Stream 2, que liga à Rússia ao norte da Alemanha, não deverá funcionar se Putin invadir a Ucrânia. A seu lado, em Washington, Olaf Scholz não desmentiu mas também não confirmou esta medida retaliatória, que cabe à Alemanha tomar. Apesar de a Rússia ter encerrado os escritórios em Moscovo da conhecida emissora germânica Deutsche Welle.