14 fev, 2022
No sábado passado a Comissão Europeia informou que tinha preparado com os Estados Unidos um conjunto “sólido e abrangente” de sanções contra a Rússia, caso este país desencadeie uma invasão da Ucrânia. Parece uma notícia banal, nesta fase de aguda tensão em torno da Ucrânia, mas ela revela algumas realidades que importa destacar.
Surgiram críticas à UE por não ter uma posição diplomática comum quanto à crise da Ucrânia. Mas a UE só poderá ter uma verdadeira política externa comum quando avançar para uma política de defesa também comum, o que ainda vai demorar.
Em todo o caso, dois líderes europeus - primeiro Macron e agora Scholz - têm tomado iniciativas nesta delicada matéria, incluindo encontros com Putin. Mais importante, têm mantido com os seus parceiros comunitários intensos contactos para harmonizarem posições.
Ainda mais relevante é que esta crise marca o regresso do apoio dos EUA à UE, perante as ameaças de Putin. Recorde-se que Trump tentou enfraquecer a UE e apoiou abertamente a saída da Grã-Bretanha. Agora, pelo contrário, J. Biden mostrou uma forte determinação ao articular as posições americanas com os seus parceiros da UE.
Foi patente esse empenho de Washington em mostrar unidade com os europeus quando Biden recebeu o chanceler alemão Olaf Scholz e procurou livrá-lo de embaraços quanto ao futuro do Nord Stream 2.
Scholz tem dificuldade em afirmar que aquele gasoduto não entrará em funcionamento se a Rússia invadir a Ucrânia, porque a opinião pública alemã não está ainda receptiva a tal decisão. Os ucranianos argumentam que esse gasoduto, direto da Rússia para a Alemanha através do mar Báltico, não é necessário para abastecer a Europa ocidental de gás natural russo, ainda que duplicasse o volume de gás a transportar. O Nord Stream 2 poderá retirar à Ucrânia boa parte das receitas que cobra pelos gasodutos que atravessam o seu território. Ora seria inadmissível pôr aquele gasoduto a funcionar, reforçando a dependência energética da Alemanha em relação a uma Rússia que tivesse, uma vez mais, violado a soberania da Ucrânia.
O chanceler Scholz tem pouca experiência internacional. O seu perfil discreto na crise da Ucrânia já se traduziu numa baixa da sua popularidade e do seu partido, o SPD, ao passo que os seus parceiros de coligação (liberais e verdes) mantêm os níveis de aprovação de quando o atual governo alemão iniciou funções. Mas Scholz tem uma intensa semana diplomática pela frente, da qual se espera que o chanceler surja mais assertivo.