16 fev, 2022
As atuais ameaças de Putin à Ucrânia começaram há quase um ano, em março de 2021. Nas últimas semanas a tensão atingiu níveis elevados, com os EUA a alertarem para a possibilidade de uma eminente invasão russa da Ucrânia.
Pois ontem o ministério da Defesa da Rússia anunciou que iriam começar a retirar algumas unidades militares que realizaram exercícios perto da fronteira com a Ucrânia. Um porta-voz russo afirmou que o dia de ontem “ficaria na história como o dia em que a propaganda ocidental falhou”.
Na véspera assistimos na televisão a uma encenação curiosa: o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, pedia a Putin mais tempo para negociar; com ar enfadado, Putin não negou o pedido de Lavrov. Não é todos os dias que podemos seguir na TV conversas supostamente ultra secretas...
Não creio que Putin tenha posto em marcha 130 mil soldados, milhares de tanques e outro material militar pesado apenas para assustar o Ocidente - e depois mostrar que, afinal, não se concretizaram as perspetivas catastróficas evocadas pelos EUA. Putin classificava de alarmistas e enganosos os alertas de Washington, mas simultaneamente mantinha e reforçava o cerco militar à Ucrânia – aparentemente não fazia sentido.
Talvez faça sentido se – é apenas uma hipótese – o objetivo principal de Putin for destroçar economicamente a Ucrânia. Todo este ameaçador espetáculo militar russo teve já um efeito dramático na economia ucraniana. O receio de uma invasão terá levado a avultadas fugas de capitais da Ucrânia. Inúmeras companhias aéreas deixaram de voar para aquele país. O turismo desapareceu. O investimento estrangeiro afasta-se. Etc.
Também é de admitir que, nas negociações, Moscovo logre obter dos países da NATO algumas garantias de contenção. Mas nada que se pareça com as pretensões iniciais russas. Estas eram tão exageradas que suscitaram incredulidade.
Mas esse será um benefício secundário para a Rússia. O essencial para Putin, tudo indica, será destruir a frágil economia ucraniana e instabilizar aquele país. Ainda que para isso seja preciso voltar a erguer o espectro de uma ameaça de invasão. Putin vai manter a pressão militar, ainda que acabe por não invadir a Ucrânia.