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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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O declínio do Ocidente - um mito?

23 mar, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os ditadores da Rússia e da China consideram que o Ocidente democrático se encontra em irremediável declínio. O futuro estaria nos regimes autocráticos, onde as liberdades pouco ou nada contam. Talvez se enganem.

Putin e ainda mais Xi Jinping gostam de falar no que eles consideram ser o declínio do Ocidente. Para estes autocratas o futuro não está nas democracias liberais, mas nos regimes autoritários como os que vigoram na Rússia e na China.

Recordo-me de, alguns anos antes do 25 de Abril de 1974, uma importante figura do regime salazarista ter defendido, na minha frente, que a modernidade estava com os regimes como o que então entre nós vigorava. A democracia representativa, parlamentar, seria uma espécie de relíquia obsoleta do século XIX. As pretensões de modernidade dos líderes da China e da Rússia não andam longe daquela perspectiva salazarista.

Entre as duas guerras mundiais as democracias liberais sofreram rudes golpes. Os totalitarismos nazi e comunista, bem como o autoritarismo fascista, pareciam dominar o horizonte político europeu. A segunda guerra mundial ditaria o fim do nazismo e do fascismo. E o comunismo soviético colapsou 45 anos depois. As democracias liberais regressaram em força.

Na primeira década do séc. XXI essas democracias multiplicaram-se no mundo. Depois, inverteram esse progresso, dando lugar a um surto de regimes autoritários, pouco amigos das liberdades.

Agora, a invasão da Ucrânia teve da parte das democracias uma enérgica resposta, que Putin manifestamente não esperava. Mas com o passar do tempo será que as opiniões públicas das democracias irão manter-se firmes, apesar dos sacrifícios que a guerra e também as sanções implicam?

Se não houvesse liberdade de opinião nas democracias seria mais fácil calar eventuais queixas e protestos. É o que Putin faz na Rússia, mas o valor da liberdade não é felizmente negociável na Europa ocidental.

Recorde-se o exemplo de Churchill e dos britânicos. Nos primeiros anos da II Guerra Mundial, Londres e muitas outras cidades do Reino Unido foram quase diariamente alvos de ataques aéreos alemães. Mas a Câmara dos Comuns não suspendeu o seu funcionamento, nem a liberdade de expressão foi atingida na Grã-Bretanha.

Esperemos que a Europa se mantenha firme face aos autocratas. Na próxima coluna abordarei a frequente acusação de as democracias liberais serem, em regra, países capitalistas – e o capitalismo ser visto por muitos como uma espécie de encarnação do Mal.

Comentários
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  • António J G Costa
    23 mar, 2022 Cacém 11:02
    Há 120 anos apenas, o chamado ocidente dominava o mundo. Só a Inglaterra fazia questão de que a sua marinha de guerra fosse 50% de todas as forças navais do mundo. A África e Ásia eram na quase totalidade colonias europeias (ex Etiópia, Tailandia ou o Japão). No inicio do séc XX o Japão esmaga a marinha de guerrra russa. A seguir um conjunto de guerras fratricidas deixam a Europa de rastos. Se nos anos 20 do séc XX a Turquia ainda imitou o " modelo francês", os anos a seguir à II grande guerra vai assistir ao colapso dos impérios ocidentais. Os modelos "socialistas" impuseram-se e entram em conflito aberto com os regimes islãmicos. São derrotados por estes na Indonésia e Paquistão. No norte de África e Médio Oriente irão ser "varridos" pelas primaveras Árabes, muitos anos mais tarde. Destes só o "regime sirio" sobreviveu a custo, com o apoio de Moscovo e Teerão. Os regimes "democráticos" estão a ser restringidos aos países "cristãos". Iremos ver onde mais este conflito fratricida entre cristãos, irá levar.
  • Cidadao
    23 mar, 2022 Lisboa 09:48
    Ninguém quer ser a "próxima Ucrânia", mas veremos quanto tempo dura a determinação das Democracias Ocidentais na manutenção dos 2% de PIB para a Defesa, à medida que os preços subirem e o social for afetado...