28 mar, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral
O Governo que toma posse na próxima quarta-feira é quase totalmente composto por militantes socialistas. Tem uma perspectiva de quatro anos e meio de vigência, dispondo de uma maioria absoluta no Parlamento.
Será que um executivo com tão favoráveis condições à partida conseguirá romper com a tendência para a estagnação que marca a economia portuguesa no presente século? Contra essa viragem está o papel crescente e pouco mobilizador que tem sido o do Estado.
Não se trata de defender qualquer fundamentalismo liberal. Os fundamentalismos, de esquerda ou de direita, são perniciosos. O que interessa é encontrar um “equilíbrio virtuoso ente Estado e mercado”, como disse António Costa Silva, o novo ministro da Economia e um dos raros ministros que não pertencem ao PS.
O Estado português interveio em força na economia para compensar famílias e empresas prejudicadas pela pandemia. Fez bem, mas importa estar consciente de que essa intervenção acentua a secular dependência dos portugueses em relação ao Estado.
Ora as consequências da guerra da Ucrânia vão obrigar o Estado a nova e muito ampla intervenção para limitar os danos da escalada inflacionária. Parece cada vez mais longínquo o tal equilíbrio entre Estado e mercado de que falava A. Costa Silva.
Numa entrevista de 2018 afirmou o agora ministro da Economia e do Mar: “Há uma espécie de clima de hostilidade em relação às empresas, mas são elas que criam riqueza”. Acrescento que, em parte, essa hostilidade tem a ver com uma herança do marxismo, para o qual o lucro empresarial é um roubo, já que retira ao trabalhador a mais-valia do seu trabalho.
O coletivismo marxista já revelou a sua incapacidade para gerar crescimento económico, mas persistem no PS traços de uma mentalidade hostil à empresa privada. Certamente que Costa Silva tem presente que, para valorizar o papel da iniciativa privada na economia portuguesa, “desde que com regulação do Estado”, terá de enfrentar a tendência contrária estimulada pela necessária intervenção estatal por causa da pandemia e para limitar a escalada dos preços. Não será tarefa fácil.