06 mai, 2022
Mario Draghi, primeiro-ministro de Itália, defendeu perante o Parlamento Europeu que, em resposta à invasão russa da Ucrânia, urge aprofundar a integração europeia.
Ganhou um enorme prestígio por ter salvo o euro. Em julho de 2012, quando a Alemanha e a França hesitavam, ele afirmou em Londres que o Banco Central Europeu estava preparado para fazer o que fosse preciso para preservar o euro. E assim aconteceu.
O prestígio explica que ele hoje chefie uma coligação que inclui quase todos os partidos italianos para governar Itália. Ninguém mais seria capaz de o fazer.
Apelando a um “federalismo pragmático”, Draghi entende que as instituições europeias já não servem a realidade presente, determinada pela guerra na Ucrânia. Pretende um reforço da integração, com menos decisões por unanimidade na UE. E adianta que, se for necessário para renovar os laços políticos e económicos na Europa iniciar um processo de revisão dos tratados da UE, então que se avance. Ora esta revisão dos tratados parece pouco “pragmática” e muito perigosa para o futuro da integração europeia.
O maior avanço na integração desde o tratado de Roma (1957) foi o aparecimento da moeda única, com o tratado de Maastricht, assinado em 1992. Seguiram-se várias tentativas falhadas de criar um novo arranjo institucional, culminando no tratado de Lisboa de 2007 – quinze anos depois.
Aliás, logo em 1992 um referendo em França sobre Maastricht evidenciou as dificuldades de a opinião pública aceitar avanços integradores na UE. É que nesse referendo os progressos de Maastricht foram aprovados por uma “unha negra”, apesar de os políticos franceses serem entusiastas da moeda única, para se libertarem da pressão do marco alemão.
Mais tarde, em 2005, um outro referendo em França chumbou uma impropriamente chamada constituição europeia (era um tratado constitucional). Idêntico resultado negativo teve um referendo sobre a dita “constituição” nos Países Baixos, outra nação fundadora da integração europeia.
E não parece difícil prever que, se houvesse agora um referendo em França sobre o aprofundamento da integração proposto por Draghi, da conjugação dos extremos à direita e à esquerda resultaria num novo chumbo.
Significa isto que propostas como as que Draghi agora apresentou precisam de ganhar o apoio das opiniões públicas em vários Estados membros da UE. O que não se consegue em meses, pois exige anos de esforço.