13 jul, 2022
Prosseguem os trabalhos da comissão do Congresso federal que investiga o assalto ao Capitólio em 6 de janeiro do ano passado. Quase todos os políticos do partido republicano recusaram testemunhar nessa comissão, seguindo instruções de Trump. E este alarga o seu domínio sobre o partido republicano, cada vez mais convertido à “nova direita”.
Um caso digno de registo é a participação ativa de Liz Cheeney nesses trabalhos do Congresso. Filha do antigo vice-presidente dos EUA Dick Cheeney (quando o presidente era Bush filho) e mulher de convicções conservadoras, Liz Cheeney apoiou Trump em 2016 e votou favoravelmente medidas deste na Câmara dos Representantes.
Mas considerou intolerável a posição de Trump de manter a ficção de a eleição de 2020 ter sido ganha por ele, contra dezenas de provas em contrário. Um raro exemplo de honestidade política, contrastando com a vergonhosa submissão da maioria dos republicanos ao ex-presidente.
A “nova direita” que Trump personifica tem pouco a ver com a direita tradicional, que até há pouco o partido republicano defendia. Desde logo, enquanto a direita tradicional respeitava a democracia formal, a direita de Trump só a respeita quando lhe convém. Por isso não aceita os resultados eleitorais quando perde eleições, ou seja, já não é democracia, mas golpismo antidemocrático.
A antiga direita batia-se por governos limitados, finanças públicas equilibradas com impostos não elevados e comércio livre. A direita “trumpista” é protecionista, intervencionista e não se coíbe de gastar muito dinheiro dos contribuintes. Além disso, claro, é racista, preocupada com a supremacia dos brancos, que considera ameaçada pelos negros.
Em matéria de política externa, Trump apoiou com entusiasmo a saída da Grã-Bretanha da UE, suscitou dúvidas sobre a NATO e o célebre artigo 5º do tratado da Aliança (segundo o qual um ataque a um membro da NATO é um ataque a todos os outros) e agora não apoia a ajuda americana à Ucrânia. Trump é um admirador de Putin e com ele no poder jamais se teria visto a manifestação de unidade transatlântica que Joe Biden e os líderes europeus lograram forjar.
Pois, é esta “direita” que está a conquistar o partido republicano e que poderá voltar a ocupar a Casa Branca.