Siga-nos no Whatsapp
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Fazer as contas do gasoduto

17 ago, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Importa ponderar – ou seja, pesar - as vantagens e os inconvenientes, ou os riscos, deste projeto. Para isso precisamos que o Governo nos dê mais informações. O gasoduto não pode ficar dependente do que A ou B acham.

A construção de um gasoduto a partir de Sines começa a ser um projeto debatido entre nós. Importa que este debate assente em dados reais, para ser útil a eventuais decisões.

O que lançou o debate foi uma declaração do chanceler alemão Olaf Scholz, apoiando o projeto do gasoduto. Mas já o governo de Passos Coelho, antes da atual crise energética na Alemanha, se tinha interessado por este projeto.

Um gasoduto partindo de Sines valorizaria naturalmente este porto de águas profundas. A vantagem de Sines é poder receber metaneiros de grandes dimensões, transportando gás natural liquefeito (GNL).

Ora faz sentido confrontar o gasoduto com a alternativa de descarregar o GNL para navios mais pequenos, que depois iriam transportá-lo para portos em Espanha e noutros países, aí entrando nas redes de gasodutos já existentes.

Mas tal cálculo só será possível se soubermos quem e quanto pagará pela construção do gasoduto. Os seus principais beneficiários, como a Alemanha, ou também a Espanha e Portugal? É possível que ainda não se saiba quem paga o quê, dependendo de negociações. Mas sempre se podem adiantar algumas estimativas.

Outra questão é saber se o gasoduto terá justificação económica depois de ultrapassada a crise atual, resultante da dependência energética da Rússia em países como a Alemanha. Um gasoduto utilizado apenas durante meia dúzia de anos talvez não se justifique. Acresce que a transição energética, no sentido da descarbonização, aponta para que a partir de 2040 o gás natural não seja aceite como fonte de energia.

Manuel Carvalho, diretor do “Público”, defende que “tudo o que aproximar o país do centro de gravidade das decisões europeias é bom para Portugal”. “O gasoduto torna Portugal mais europeu”. É um sensato argumento favorável à construção do gasoduto a partir de Sines, mas só por si não chega para dar luz verde a um empreendimento desta dimensão.

Importa ponderar – ou seja, pesar - as vantagens e os inconvenientes, ou os riscos, deste projeto. Para isso precisamos que o Governo nos dê mais informações. O gasoduto não pode ficar dependente do que A ou B acham.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Desabafo Assim
    18 ago, 2022 Porto 11:13
    Pode ser usado como corredor de alta velocidade no futuro, como conduta de água potável. Comecem.
  • JM
    17 ago, 2022 Seixal 11:48
    Assim como a água lava tudo menos a má língua, também as feridas vão sarando com o tempo. Daqui por uma década, com a europa a encher os cofres com a reconstrução da Ucrânia e os russos a acenarem aos alemães o gás a menos de metade do preço, o novo gasoduto que ainda não foi estreado começa logo a bombar, e nós ficamos com mais um elefante branco de milhões de euros, porque os franceses estão-se nas tintas para o gasoduto da Península Ibérica.