Siga-nos no Whatsapp
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​O corredor verde

24 out, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O acordo entre Portugal, Espanha e França é uma aposta no hidrogénio verde. Temporariamente o gasoduto poderá transportar gás natural. Quanto à eletricidade, que interessa a Portugal, ainda não é claro que a França tenha desistido do seu protecionismo.

Como é sabido, António Costa e Pedro Sánchez convenceram Emmanuel Macron a aceitar um gasoduto que irá de Portugal a França, mas que já não passa pelos Pirinéus. Esse gasoduto servirá, sobretudo, para transportar hidrogénio verde; temporariamente poderá transportar gás natural.

O governo espanhol estima que a construção do último troço do gasoduto (Barcelona-Marselha, pelo mar) levará entre cinco e sete anos. Ou seja, o novo gasoduto não adiantará coisa alguma para a atual crise energética.

E o transporte de hidrogénio obrigará a reconstruir o gasoduto que já existe. Dizem os peritos que o hidrogénio exige tubagens especiais.

As estimativas governamentais sobre a adaptação do gasoduto existente em território nacional para o transporte de hidrogénio verde aumentaram muito de 2020 para hoje. O Governo estima agora que o custo da adaptação dessa infraestrutura venha a atingir um valor entre os 300 e os 350 milhões de euros.

Por outro lado, não ficou totalmente claro se a França deixou cair o seu feroz protecionismo à eletricidade gerada nas suas centrais nucleares. O comunicado do encontro António Costa, Pedro Sánchez e Emmanuel Macron diz que os três países acordaram acelerar as interconexões elétricas, em especial a que se está a construir no golfo de Biscaia. É certo que António Costa afirmou que foi ultrapassado um “bloqueio histórico” relativamente às interconexões ibéricas para gás e eletricidade. Mas o diabo poderá estar nos pormenores...

Este ponto é fundamental para os interesses de Portugal, que aspira a exportar para a Europa eletricidade produzida por fontes renováveis (eólicas e solares). Até agora a França tem sido o grande obstáculo.

Não se sabe quem pagará o quê deste gasoduto, embora todos esperem que fundos europeus financiem. pelo menos. uma parte do investimento. No encontro entre os três países previsto para Alicante a 8 e 9 de Dezembro deverá saber-se mais sobre o dinheiro necessário a este projeto.

O acordo tripartido é, basicamente, uma aposta no hidrogénio verde. O entusiasmo com a perspetiva de exportar para a Europa gás natural a partir de Sines parece ter esmorecido. Acontece que a Espanha tem vários portos modernos, nos quais poderá receber grandes navios com gás natural liquefeito, que depois de gasificado de novo será exportado para a UE por gasoduto. Espanha também pode manter liquefeito o gás e descarregá-lo para navios mais pequenos destinados a portos europeus. Não é certo que Sines tenha condições para vencer a competição com os portos espanhóis.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Cidadao
    24 out, 2022 Lisboa 08:38
    Por outras palavras, a "Mocinha" e o Costa sorridente podem vir com grandes balelas, mas cheira a léguas que os grandes beneficiados são Espanha e França e nós, ficamos com as contas para pagar - os contribuintes, esses "queridos" ... - e o Costa com mais um degrau subido, rumo a um tacho melhor em Bruxelas.