03 fev, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
Três anos depois de consumada a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), parece que muitos britânicos estão desapontados com o Brexit. Era de esperar, pois os argumentos invocados pelos adeptos do Brexit foram frequentemente invenções sem adesão à realidade. Foi dito, por exemplo, que a poupança que resultaria do Brexit para a Grã-Bretanha iria permitir financiar generosamente o Serviço Nacional de Saúde do país. Uma fantasia sem pés nem cabeça. Foi com base em argumentos destes que 52% votaram em junho de 2016 pela saída da UE. Agora confrontam-se com a realidade – e não gostam.
Quase sete anos passados desde o referendo de 2016 e depois de várias propostas irrealistas de sucessivos chefes do governo britânico ainda não está ultrapassado o caso mais espinhoso do Brexit, o problema de não ter que fechar a fronteira, na ilha da Irlanda, entre o Norte, território britânico, e o Sul, território da República da Irlanda. Acontece que manter essa fronteira aberta é essencial para não violar o chamado acordo de Sexta-feira Santa, de 1998, que pôs fim ao conflito entre protestantes e católicos.
Não está apenas em jogo a paz na Irlanda. Os americanos já fizeram saber a Londres que, se aquele acordo de 1998 for violado, ficará fora de questão Washington celebrar um acordo comercial com o Reino Unido. Ora um grande acordo com os EUA foi um dos argumentos usados para defender o Brexit.
O Brexit arrisca-se a desunir o Reino Unido. O partido nacionalista escocês não irá desistir do seu projeto independentista – na Escócia o referendo de 2016 foi favorável á manutenção do Reino Unido na UE.
Uma sondagem recente indica que 57% dos britânicos julga, hoje, que o Brexit criou mais problemas do que aqueles que resolveu. 58% acreditam que o seu país estaria hoje melhor se tivesse permanecido na UE. E 65% defendem um novo referendo sobre a relação do Reino Unido com a Europa comunitária.
Não se pense, porém, que está próxima uma decisão do Reino Unido para se reaproximar da UE. Seria inaceitável para os populistas eurocéticos de fora e de dentro do partido conservador. Este partido está em perda de popularidade, mas ainda conta.
Com 58% das intenções de voto, o partido trabalhista espera voltar em breve a governar em Londres e não quer aumentar os problemas que irá enfrentar nessa altura, além da alta do custo de vida por causa da inflação. Por isso Keir Starmer, o líder trabalhista, não se irá empenhar num regresso do seu país à UE.
Importa ainda, perceber que os 27 da UE não estão propriamente ansiosos por um regresso do Reino Unido. Terão de passar ainda longos anos até os ex-parceiros dos britânicos na UE encararem com tranquilidade a hipótese de voltarem a ter o Reino Unido como estado membro.