27 fev, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
O consumo mundial de carvão quase duplicou nos últimos 25 anos, atingindo agora um máximo histórico. A China contribui com cerca de metade do consumo mundial de carvão. Parece inesgotável este combustível altamente poluente, que foi decisivo na revolução industrial e que ainda hoje é uma fonte energética muito utilizada. Os problemas de abastecimento a partir de outras fontes levaram vários países a reabrir explorações de carvão e até a subsidiar o consumo de carvão.
Más notícias para a tão desejada descarbonização? Não, porque o consumo de carvão, que acelerou por causa das restrições ao acesso às exportações da Rússia, deverá declinar acentuadamente a partir de 2025. E sobretudo porque aquelas restrições e a guerra na Ucrânia fizeram disparar a aposta nas energias renováveis.
O semanário britânico The Economist analisou o assunto, concluindo que a invasão russa da Ucrânia, tornando o carvão, o gás e o petróleo escassos e, portanto, mais caros (apesar de uma baixa de preços recente), desencadeou um forte investimento nas energias solar e eólica. O que terá acelerado a transição energética, ou seja, a descarbonização, entre cinco e dez anos.
Também se registaram progressos na eficiência energética. No ano passado a economia mundial tornou-se 2% menos energia-intensiva, isto é, foi necessário um menor gasto de energia para produzir uma unidade de PIB.
Segundo calculou o Economist, o capital gasto em 2022 em energia solar e eólica ultrapassou, pela primeira vez, o montante gasto em novos e já existentes poços de petróleo. E as perspetivas para os próximos anos são de manutenção desse alto nível de investimento nas renováveis. Com destaque para a China e também para a UE; por exemplo, a Comissão Europeia espera duplicar a capacidade solar instalada já em 2025, quando antes a data prevista era 2030. Acresce que o ambicioso programa dos EUA, que incomoda a UE pelo seu protecionismo, direciona grandes apoios para as energias renováveis.
Assistimos a sucessivas reuniões internacionais que pouco avançaram na transição energética. E falta concretizar a promessa dos países ricos de que iriam apoiar financeiramente a transição dos países pobres. Neste ambiente de pessimismo são de saudar as notícias otimistas que acima se referem.