03 jul, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
O jornal britânico Financial Times intitulava há dias que os bancos centrais avisam que os juros irão continuar a subir. São declarações feitas no Forum do Banco Central Europeu (BCE), em Sintra.
Até Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), que não subiu os seus juros diretores em junho, admite agora que irá retomar a subida desses juros em julho. Acontece que a inflação resiste a baixar significativamente, sobretudo em países como a Alemanha, levando a maioria dos bancos centrais a manter a subida dos juros.
Em Portugal, no mês de junho a inflação desceu seis décimas para 3,4% (ainda em estimativa provisória). Em Espanha a inflação quedou-se em junho por 1,9%, mas na Alemanha aumentou 6,4%. E na Itália foi 6,7%.
A governadora do BCE indicou, em Sintra, que continuaria a subir juros. Mas terá sentido anunciar em junho que provavelmente haverá nova subida em julho? Esta antecipação terá levado o Presidente da República a recomendar aos bancos centrais “muito cuidado” nas suas declarações públicas, para evitarem “perturbações nas pessoas, nas economias e nos mercados”. Qual é, então, a lógica dos bancos centrais ao falarem de futuras subidas?
Os bancos centrais em geral e o BCE em particular não gostam de surpreender com as suas decisões. Pelo contrário, esforçam-se por transmitir publicamente as suas intenções antes de elas se concretizarem. Porquê?
Porque é sua obrigação convencerem os agentes económicos – consumidores, gestores, investidores, etc. – que estão determinados a combater a inflação, ainda que este combate traga, como danos colaterais, alguns problemas para o crescimento económico. Note-se que, na prática, esta obrigação é vivida de modo semelhante na Fed, que estatutariamente deve preocupar-se com a estabilidade dos preços e o emprego, e no BCE, que legalmente tem um único objetivo, a estabilidade dos preços.
Se o BCE tiver em junho convencido uma boa parte dos agentes económicos da zona euro de que vai mesmo subir os juros no fim de julho e assim manter ativo o combate à inflação, terá dado um passo nesse combate. É de uma guerra psicológica que se trata. E até é possível que, por causa do anúncio de subidas em julho, vários agentes económicos tenham iniciado alguns cortes no consumo e no investimento.
Por isso se desdobrou Christine Lagarde em declarações sobre novas subidas de juros, por muito que estas preocupem o ministro das Finanças português, Fernando Medina, e outros políticos. Não foi por incúria, pelo contrário.