26 jul, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
O líder do Partido Popular (PP) espanhol, Alberto Feijóo, nunca perdeu uma eleição. Mas a sua posição ao longo da recente campanha eleitoral em Espanha não foi clara. Em junho Feijóo admitiu que o Vox se juntasse ao seu partido em várias autonomias, como Valência e Extremadura, depois das eleições regionais de 28 de maio. Vários acordos do PP com o VOX obrigaram políticos regionais do PP a violar princípios que, antes, proclamavam.
Mas na campanha para as eleições de domingo passado Feijóo manifestou uma forte vontade de vir a governar Espanha sem a “muleta” do Vox. Até faltou a um debate na TV para não figurar ao lado deste partido. O que levou Santiago Abascal, líder do Vox, a acusá-lo de ter desmobilizado a direita.
A acusação parece injusta, pois ninguém duvida de que, tivessem o PP e o Vox obtido 176 deputados nas Cortes (maioria), Feijóo governaria coligado com o Vox. Como é sabido, o PP elegeu 136 deputados, mais 47 do que em 2019, e o Vox 33, menos 19 do que nas anteriores eleições.
O Vox também foi, contra a sua vontade e pela negativa, um protagonista da campanha de Pedro Sanchez, presidente do Governo e líder do PSOE. Sanchez agitou muitas vezes aquilo que considerou uma ameaça para a democracia espanhola - o radical Vox, que alegadamente Fejóo iria trazer para o governo – de modo a desviar do PP votos de pessoas da direita democrática. Esta estratégia, semelhante à usada pelo PS em Portugal relativamente ao Chega, teve resultados eleitorais favoráveis para o PSOE.
Ora, isto coloca um desafio à direita democrática em Espanha (PP) e em Portugal (PSD). O desafio é rejeitarem, sem equívocos, alianças com a direita não democrática e empenharem-se em atrair votos do centro.
Claro que esta estratégia não é politicamente fácil de executar, sobretudo quando não existe ou é débil uma visão política a longo prazo. Só que, como agora se viu em Espanha, manter a possibilidade de alianças com a direita radical, não democrática, acaba por não produzir os resultados desejados.
Os eleitores não são cegos e mais cedo ou mais tarde percebem quem honra os princípios democráticos e quem os mete na gaveta quando o poder está à vista. Veremos o que fará Feijóo numas próximas eleições em Espanha, que talvez não tardem muito.