25 ago, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
Na passada quarta-feira, ao fim da tarde, um jato particular partiu de Moscovo e menos de meia hora depois despenhou-se no solo. As dez pessoas que viajavam no jato morreram. Entre elas estavam Yevgeny Prighozin, líder do grupo Wagner, e um outro dirigente deste grupo, Dimitri Urkin, que tinha comandado a marcha em direção a Moscovo, em junho.
Um vídeo que circula na Internet mostra o avião em queda, com chamas numa das asas. Várias pessoas ouviram explosões antes da queda do avião, que alguns consideraram serem características de disparos de defesa aérea. São indícios que apontam para um possível atentado, tendo como alvo Prighozin.
Não saberemos tão cedo se o atentado se confirma. Mas o que “vimos, ouvimos e lemos e não podemos ignorar” é que o regime de Putin, ao longo dos anos, afastou inúmeros inimigos pessoais recorrendo ao assassinato. Por exemplo, nos últimos dois anos doze oligarcas russos morreram em condições suspeitas. Sabe-se, também, que numerosos dissidentes da linha de Putin têm caído de janelas em andares elevados, morrendo em resultado da queda.
O envenenamento é outra arma usada com frequência, até fora da Rússia, para eliminar adversários de Putin. Alexei Navalny, o líder da oposição agora preso, é apenas o caso mais conhecido. Ele conseguiu salvar-se, mas o seu futuro na prisão não lhe augura um final feliz.
No Kremlin há gente cheia de raiva contra Prighozin. O ministro da Defesa, Sergei Shoigu e o Chefe de Estado Maior general Valery Gerasimov, por exemplo. Estes dois personagens tinham sido alvo, repetidamente, de insultos e acusações por parte de Prighozin. Mas não é credível que uma operação deste tipo, a confirmar-se o atentado, pudesse concretizar-se sem “luz verde” de Putin.
Aliás, Putin fora humilhado por Prighozin quando daquela marcha do grupo Wagner, que só parou perto de Moscovo. Mostra a recente história da Rússia que Putin não poupa quem lhe faz frente.
Resumindo e concluindo: não sabemos ao certo se estamos perante um atentado. Mas não há dúvida de que o Kremlin e os serviços secretos russos se tornaram, com Putin, uma implacável máquina de eliminar adversários. Nesse quadro, mais um assassinato não surpreende.