Siga-nos no Whatsapp
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Migrantes temporários

04 set, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Durante décadas, a Polónia e a Hungria rejeitaram trabalhadores estrangeiros. Mas agora, perante a ameaça de colapso de muitas empresas por falta de pessoal, passaram a aceitar migrantes temporários.

Na “democracia iliberal” da Hungria, assim como na Polónia, os respetivos governos não gostam de imigrantes. Para rejeitar acolher trabalhadores estrangeiros a propaganda oficial invoca a defesa do que chama a herança cristã da Europa e a preservação das identidades nacionais, além da segurança. Recentemente, Hungria e Polónia opuseram-se a partilhar imigrantes na União Europeia, inviabilizando uma proposta da Comissão.

Este era o retrato da situação até há pouco. Perante uma aguda carência de trabalhadores polacos e húngaros, e a incapacidade de inúmeras empresas de efetuarem o seu trabalho por falta de pessoal, os governos dos dois países decidiram aceitar imigrantes temporários (até três anos na Hungria), pessoas que “estão aqui apenas para trabalhar”, na voz de um autarca polaco.

Ou seja, importam-se pessoas como se fossem máquinas. O que nada tem de cristão e viola princípios elementares de humanidade.

Não é que a Hungria e a Polónia tratem mal os migrantes temporários, mas não os tratam como pessoas. Um presidente de câmara húngara explicou ao Washington Post (em reportagem também publicada no jornal Público de 29 de agosto): “a diferença entre a imigração a que nos opomos e a imigração temporária é o controlo”.

Imagina-se o que será a vida desses migrantes temporários durante a sua curta estadia na Hungria e na Polónia. Uma vida reduzida ao trabalho e às dormidas em contentores e instalações de plástico.

Mas nós, portugueses, temos pouca autoridade moral para criticar estes dois países. Teoricamente, nós acolhemos bem os imigrantes; mas, no concreto, milhares deles vivem em condições sub-humanas em apartamentos onde se alojam dezenas e muitos até dormem na rua – pois há muitos imigrantes em Portugal que são sem-abrigo. Também entre nós existem situações na área da imigração que têm muito pouco a ver com uma inspiração cristã.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Eddie T
    04 set, 2023 Sheffield 09:53
    O mais curioso e que os tres paises mencionados no artigo tem grandes diasporas de emigrantes pelo mundo, com contribuições para a economia e paz social destes paises (não esquecer que a emigração e uma válvula de escape para reduzir tensões sociais durante crises). Esperamos ser bem recebidos mas arranjámos desculpas para não receber quem chega com dignidade. E preciso parar com a fabula de que somos emigrantes modelo, e de que temos leis de emigração progressistas. A primeira esconde os muitos problemas que temos lá fora, e a segunda e de uma arrogância extrema, principalmente com as historias de exploração que temos visto ultimamente).