20 out, 2023
Ninguém sabe o que aconteceu num hospital de Gaza na terça-feira passada. Houve uma explosão, que fez centenas de mortos e feridos. Nem sequer sabemos se foi um ataque deliberado ou a funesta consequência da queda de um míssil.
Mas parece bastante óbvio quem teria interesse em prejudicar a visita do presidente Biden a Israel, incluindo contactos previstos com a Autoridade Palestiniana, o rei da Jordânia e o presidente do Egito. O radicalismo não gosta de entendimentos envolvendo países árabes moderados.
O terrível atentado do Hamas, em 7 deste mês, já tinha arrefecido a aproximação a Israel dos Emiratos Árabes Unidos e do Bahrein; parecia eminente um acordo entre a Arábia Saudita e Israel, que o ataque terrorista fez adiar. Agora, o caso do hospital de Gaza levou a anular encontros de políticos árabes moderados com J. Biden. E por todos esses países avança uma onda de protestos contra Israel.
Biden e o seu secretário de Estado (ministro dos Negócios Estrangeiros) Antony Blinken apostaram em renovar esforços para conseguir alguma paz no Médio Oriente. O caso do hospital de Gaza atrasa naturalmente as diligências diplomáticas nesse sentido. É possível que Biden, com apenas mais 15 meses de mandato, não consiga resultados antes das eleições de novembro de 2024. Talvez seja uma tarefa para o segundo mandato de Biden, se vencer aquelas eleições. Mas é inegável que houve uma mudança na posição americana quanto ao Médio Oriente.
Biden percebeu que os EUA não podem afastar-se dos problemas do Médio Oriente, depois de muitos anos durante os quais Washington parecia ter desistido desse esforço diplomático. Até se compreendia a desistência, pois uma solução pacífica tinha-se tornado aparentemente inviável, após ter parecido próxima de se concretizar. Só que o terrível ataque terrorista do Hamas a Israel veio abalar a racionalidade de um qualquer conformismo face à situação no Médio Oriente.
O Presidente dos EUA reafirmou a solução de dois Estados, Israel e um Estado palestiniano, que parecia ter caído no esquecimento. “Ressuscitar” a solução de dois estados irá exigir, agora, penosas diligências diplomáticas. Que o Presidente americano esteja disponível para tão espinhosa tarefa revela coragem política.
Biden e Blinken não ignoram que Netanyahu há anos enterrou a solução dos dois estados, bem como quaisquer iniciativas de pacificação envolvendo palestinianos. O futuro desejado pelo primeiro ministro israelita e pelos partidos religiosos extremistas do seu governo é claro: a eliminação dos palestinianos, permitindo campo livre para a expansão dos colonatos israelitas fora das fronteiras do país. Netanyahu será um dos principais obstáculos a uma diplomacia visando a paz no Médio Oriente.
Mas também existem muitas resistências do lado palestiniano a um esforço de paz. Os extremistas, como é o caso do Hamas mas há outros, vivem de acirrar ódios. E a Autoridade Palestiniana tem escassa... autoridade.
Netanyahu também não acolhe com entusiasmo a tarefa imediata de Biden e Blinken: evitar, tanto quanto possível, que a guerra de Israel contra o Hamas atinja fatalmente um grande número de vítimas inocentes. Por isso Biden tem insistido em público que a ofensiva em curso na Faixa de Gaza deve manter-se dentro dos limites “seguidos pelas instituições democráticas”. Veremos.