25 out, 2023
Os dois candidatos mais votados na primeira volta das eleições presidenciais na Argentina irão disputar em 19 de novembro o lugar de presidente. Ora este país atravessa mais uma grave crise financeira. Nos últimos 65 anos o Fundo Monetário Internacional (FMI) teve de intervir 22 vezes com programas de resgate. Agora a Argentina não consegue sequer pagar o que deve ao FMI; entretanto o país vai sobrevivendo com empréstimos de emergência, como um crédito cedido pela China. A forte probabilidade de bancarrota desenha-se no horizonte.
A economia argentina até cresceu 5,2% em 2022. Mas a inflação subiu no corrente ano para 140%. A situação social é cada vez mais preocupante; 40% dos argentinos sobrevivem num quadro de pobreza. O peso argentino desvaloriza vertiginosamente.
Apesar de o voto ser obrigatório na Argentina, as eleições do passado domingo registaram uma subida da abstenção. A surpresa destas eleições foi não ter surgido em primeiro lugar o candidato de extrema-direita Javier Milei, contra o que previam as sondagens. O mais votado foi o atual ministro da Economia, o peronista Sergio Massa.
J. Milei tornara-se muito conhecido pelo radicalismo das suas propostas. Para ultrapassar a aparente incapacidade argentina de ter contas públicas equilibradas Milei defendia o abandono da moeda nacional e a supressão do banco central da Argentina – o país passaria a ter como moeda o dólar dos EUA.
Uma decisão nesse sentido foi tomada em 2000 pelo Equador. Ora não parecem famosos os resultados da “dolarização” do Equador, nomeadamente quanto ao equilíbrio das contas do Estado.
Milei tem ainda a possibilidade de vencer o candidato peronista na segunda volta. O radicalismo ultraliberal de outras propostas de Milei não parecem tornar provável essa possibilidade. Ele defende um Estado mínimo, propondo-se eliminar quatro ministérios: Saúde, Educação, Desenvolvimento Social e Condição Feminina. Milei quer suprimir os apoios sociais e liberalizar o comércio de armas.
Perante Milei e o seu radicalismo, o atual ministro da Economia poderá tornar-se presidente da Argentina. Sergio Massa é peronista. O peronismo nasceu depois da II guerra mundial, com um projeto de justiça social. Juan Peron e a sua mulher Eva Peron lideraram esse movimento, de cariz nacionalista e populista.
Passados 75 anos, a vida política argentina ainda hoje é dominada pelo peronismo. E as muitas crises financeiras que a Argentina sofreu até certo ponto terão resultado de excessivas expectativas difundidas pelos peronistas, que não tiveram resposta por parte dos governos. Será um peronista capaz de enfrentar a presente crise financeira? Pelo menos, Sergio Massa conhece os problemas e os intervenientes na crise. Talvez muitos argentinos votem nele como mal menor, atendendo ao que o seu opositor representa.