17 nov, 2023
O regresso à normalidade do governo em Espanha fez-se à custa de uma ameaça à unidade do país. Parece mais distante a solução federal para uma Espanha plurinacional. Portugal nada teria a ganhar com a divisão de Espanha.
Ontem, no parlamento espanhol, Pedro Sánchez foi reeleito presidente do governo de Espanha. Parece, assim, ter terminado o longo período durante o qual não houve em Madrid um governo em plenitude de funções.
O problema está em que o preço para este regresso à normalidade foi muito alto. P. Sánchez manteve-se chefe do governo espanhol graças a concessões feitas a partidos independentistas da Catalunha, como o compromisso de amnistiar os que em 2017 promoveram ali um referendo ilegal.
Acontece que Sánchez e, com ele, o seu partido (PSOE), várias vezes recusaram essa amnistia. Agora, para se manter no poder, P. Sánchez defende a amnistia e classifica de “direitas reacionárias” os que se opõem a ela.
É certo que o Vox, um partido de extrema-direita, tem surgido com destaque nas manifestações contra a amnistia; nesse sentido, a insistência de Sánchez na amnistia aos independentistas da Catalunha foi um involuntário favor político à extrema-direita espanhola. Mas muitos espanhóis que não são de direita se preocupam com esta concessão aos independentistas da Catalunha. A unidade de Espanha fica abalada.
Torna-se mais distante uma Espanha federal, como é a Alemanha, por exemplo. Uma estrutura federal seria adequada a um país onde coexistem várias nações - Catalunha, Galiza, País Basco, etc. Mas para concretizar o federalismo em Espanha é indispensável um sereno clima político, que tem sido tudo menos sereno.
E se Sánchez ganhou a simpatia dos independentistas da Catalunha (que não representam a maioria dos catalães) suscitou a revolta dos que pretendem salvaguardar a unidade do país.
Portugal nada teria a ganhar com a divisão de Espanha. Numa altura em que as relações políticas luso-espanholas entraram na normalidade, afastadas que estão as ameaças - reais ou imaginárias - à independência portuguesa, que é bem mais antiga do que a unidade do Estado espanhol, dividir Espanha seria um retrocesso lamentável.