12 fev, 2024
Sobre as eleições de 10 de março pairam algumas nuvens. Receia-se que dessa votação não saia um novo governo, por nenhum partido obter a maioria. Ora se a democracia liberal, como é a nossa, se mostrar incapaz de trazer governabilidade ao país, ganham argumentos os críticos do regime democrático. Uma estranha forma de comemorar os 50 anos do 25 de Abril.
Também preocupa a previsível subida do Chega, um partido que, não se confessando anti-democrático (por enquanto...), vai dando indícios de admirar o regime derrubado no 25 de Abril de 1974. Calcula-se que o Chega terá cerca de um quinto da votação. Recorde-se que o partido nazi chegou ao governo da Alemanha através de eleições; uma vez no poder, os nazis acabaram com eleições.
Será que os principais partidos que disputam as eleições de 10 de março, o PS e o PSD, terão consciência de quanto se joga nessas eleições relativamente ao futuro da nossa democracia liberal? Tenho dúvidas, pois não concordaram em prometer que o partido que tivesse mais votos, mas não a maioria absoluta, deveria governar, embora minoritário no parlamento, remetendo-se o outro partido à oposição.
A ideia deste acordo seria “poupar o regime à ascensão da extrema-direita ao poder”, como escreveu Pedro Norton no Público de 6 do corrente mês. Mas o próprio P. Norton considerou essa ideia ingénua, perante os partidos que temos.
A recusa de uma tal hipótese é muito clara da parte do atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos – apesar de socialistas de várias tendências terem defendido publicamente que o seu partido deveria viabilizar um governo minoritário do PSD e vice-versa. Refiro-me, por exemplo, a Francisco Assis e a Ana Gomes.
Assim, o PS prossegue na sua opção preferida de usar a ameaça do Chega para enfraquecer a Aliança Democrática (AD), insistindo em que Montenegro acabará por acolher o apoio do partido de A. Ventura se não tiver maioria. Note-se que a AD também não encara viabilizar um eventual governo minoritário do PS.
Em tudo isto falta um genuíno empenho em defender a democracia.