01 mar, 2024 • Francisco Sarsfield Cabral
Os políticos que disputam eleições procuram simplificar as suas mensagens, de modo a que elas sejam compreensíveis para toda a gente. Os cidadãos nem sempre têm possibilidades, nem tempo, para ouvirem e entenderem explicações complicadas.
Outra coisa são os simplismos, as ideias feitas, que atravessam o espaço público e que decorrem da ignorância e de preconceitos. Por exemplo, a ideia de que os imigrantes veem para o nosso país tirar o emprego aos nacionais e beneficiar dos apoios sociais. Ora a pobreza já atinge cerca de 30% dos imigrantes e as contribuições destes para a segurança social são muito superiores ao que eles recebem de apoios.
Aliás, a afirmação de que ter um emprego significa escapar à pobreza já não é totalmente verdadeira entre nós. Infelizmente, são cada vez mais os empregados que se encontram em situações de pobreza no nosso país.
Outra afirmação merece ser contraditada. Refiro-me à ideia de que baixar impostos só vai beneficiar os ricos. Pois se os pobres nem sequer pagam impostos... Esse é apenas um dos lados da moeda. O outro é que uma baixa de impostos sobre o trabalho e sobre as empresas (IRC) permitiria mais investimento empresarial e mais emprego, beneficiando indiretamente muita gente que não é rica.
Outra situação é que a economia portuguesa recebe chorudos fundos de Bruxelas e, diz-se, deveria crescer mais. Mas também há quem diga o contrário, assegurando que esta chuva de dinheiro da UE atrasa o crescimento económico português. É o caso de Nuno Palma, no seu importante livro “As causas do atraso português” (D. Quixote).
Uma dessas causas históricas terá sido o ouro do Brasil, que aparentemente enriqueceu Portugal no século XVII. Aconteceu que, a prazo, a chuva de ouro multiplicou as importações, sobretudo de bens de consumo, o que levou à falência de centenas de pequenas unidades fabris nos séculos XVIII e XIX. Assim se terá tornado a economia nacional quase exclusivamente agrícola durante demasiado tempo.
De modo semelhante, se uma empresa trabalha mal e recebe uma grande quantidade de dinheiro por qualquer motivo (ter ganho uma grande indemnização em tribunal, por exemplo) talvez não seja motivo para bater palmas, se, uma vez com dinheiro acessível, os seus gestores desistirem de fazer as necessárias, mas difíceis, mudanças na maneira de funcionar. Cuidado, por isso, com a ilusão de que o dinheiro resolve todos os problemas. Em certos casos, o dinheiro pode ser fatal.