22 abr, 2024
Depois do fim da ditadura, em 25 de abril de 1974, a luta política pelo poder atingiu níveis excecionais. O partido comunista e a extrema-esquerda procuravam influenciar o MFA (Movimento das Forças Armadas); se tivessem conseguido os seus intentos, em Portugal a uma ditadura de direita ter-se-ia seguido uma ditadura de extrema-esquerda. A essa ameaça reagiram vigorosamente Mário Soares e o partido socialista, bem como o PPD, depois PSD, e os militares moderados.
Colocou-se, então, a questão: convocar ou não eleições gerais para, numa Assembleia Constituinte, começar a delinear os traços essenciais de um regime de democracia representativa e pluralista. A extrema-esquerda e o partido comunista tentaram adiar eleições.
Recordo que, nessa altura, jornalistas estrangeiros que acorriam a Portugal para cobrir a revolução por vezes não compreendiam o empenho dos democratas em realizar eleições. Pois não se tratava apenas de eleger uma assembleia constituinte?
De facto assim era; simplesmente terem-se realizado eleições em 25 de abril de 1975 – as primeiras em liberdade e as mais participadas de sempre – permitiu confirmar que a influência da extrema-esquerda na opinião dos portugueses era realmente diminuta, sobretudo quando comparada com o que proclamavam, antes, os dirigentes esquerdistas e comunistas.
Nesse ano de 1975 – o ano do “verão quente”, do cerco à Assembleia Constituinte, etc.- em 25 de novembro a extrema-esquerda e também os comunistas foram derrotados no seio das forças armadas pelos militares moderados; entre eles estava, por exemplo, o agora general Ramalho Eanes.
Três conclusões se podem tirar desses dois anos de intensa luta política. Primeiro, o quase desaparecimento do Estado, fazendo recair nos militares uma multiplicação de apelos a intervirem em inúmeras questões sem qualquer dimensão militar.
Depois, viu-se como era uma fantasia a pretensão do anterior regime de ser apoiado pela maioria do povo português. Os portugueses manifestaram em geral grande satisfação pelo derrube do regime que mandara em Portugal durante quase meio século.
Como lembrei na coluna anterior, os militares tomaram o poder essencialmente para porem termo às guerras coloniais. Ao invés do que muitos esperavam, não se registaram reações e protestos contra o abandono do ultramar. Era um mito a ideia de que os portugueses estavam apegados às colónias.