01 jul, 2024
Horas depois de António Costa ter sido eleito presidente do Conselho Europeu, do outro lado do Atlântico Trump ganhou o debate com Biden. O que terá uma coisa a ver com a outra? Se, como agora parece provável, Trump regressar à Casa Branca em janeiro, esse vai ser um dos problemas que A. Costa, no seu cargo europeu, terá que enfrentar.
Desde há muito que Trump anuncia que porá fim à guerra na Ucrânia. Como? É muito simples e também trágico – deixando de apoiar os ucranianos, que assim serão derrotados pela Rússia invasora. O isolacionismo de Trump colocará um sério desafio à UE no que respeita à defesa.
Sem a proteção militar americana os europeus ficarão à mercê do imperialismo russo, a menos que façam um grande esforço para promoverem a sua segurança. Esse esforço não será facilitado pelo líder de um Estado membro da UE, o primeiro ministro da Hungria, V. Orbán.
Para todos os efeitos práticos, Orbán é um aliado de Putin. Antes da eleição de A. Costa para presidir ao Conselho Europeu, Orban considerou “vergonhoso” o acordo dos líderes europeus para os cargos de topo da UE. Depois votou em A. Costa.
Ora A. Costa afirmou que assume o cargo com "enorme sentido de missão", empenhado em promover a unidade entre os 27 Estados-membros e a Agenda Estratégica para os próximos cinco anos.
Acontece que hoje, 1 de julho, a Hungria inicia a sua presidência rotativa, semestral, da UE. V. Orbán multiplicará as suas tentativas para atacar a Comissão Europeia e a própria União. Ele considera a UE uma “ocupante imperialista”, comparável aos ocupantes imperiais que dominaram a Hungria ao longo da história.
A Hungria tem uma democracia iliberal, como o próprio Orbán proclama. Mas o regime é cada vez mais uma autocracia, que de democracia tem pouco. Por isso a Comissão Europeia bloqueou 19 mil milhões de euros de transferências para a Hungria.
O novo presidente do Conselho Europeu vai ter que lembrar a V. Orbán que a União assenta “nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, do Estado de direito e do respeito pelos direitos humanos, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias”, como se lê no art.º 2.º do Tratado da União Europeia.