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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Sobre o 25 de Novembro de 1975

22 nov, 2024 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O 25 de Novembro não foi contra o 25 de Abril. Pelo contrário, garantiu que os militares de Abril cumprissem a sua promessa de termos em Portugal uma democracia pluralista.

A Associação 25 de Abril decidiu não aceitar o convite para participar na comemoração do 25 de Novembro de 1975 na Assembleia da República. A Associação, presidida por Vasco Lourenço, considera que a celebração dessa data em exclusivo, e não de outros momentos-chave que marcaram a construção da democracia em Portugal após o 25 de Abril, “provoca uma enorme e clara deturpação dos acontecimentos vividos na caminhada para o cumprimento do programa do MFA (Movimento das Forças Armadas)”. Mas o 25 de Novembro pode ser identificado como a data politicamente mais relevante da consolidação do 25 de Abril.

Passado quase meio século sobre estas duas datas convém lembrar o que então se passou e o seu significado para a instauração em Portugal de uma democracia.

A data mais importante foi, obviamente, o 25 de Abril, que pôs fim a uma ditadura de perto de 50 anos. Por isso a comemoração do 25 de Novembro não deveria ser uma réplica da comemoração do 25 de Abril.

Derrubado o regime não democrático pelos militares descontentes com o prolongamento das guerras coloniais, começou em Abril de 1974 o caminho para a democracia pluralista, que enfrentou e venceu vários obstáculos.

Um deles foi a relutância das forças comunistas e de extrema esquerda à realização de eleições. Mas as eleições realizaram-se um ano depois do 25 de Abril e foram as mais participadas de sempre.

Só que elementos de extrema esquerda tentaram depois ignorar o pluralismo da cena política nacional e impor uma ditadura de esquerda; e para tal procuraram aliciar alguns militares. Nessa luta entre partidários de uma democracia pluralista e defensores de uma ditadura de esquerda destacados militares de Abril, como Melo Antunes e Vasco Lourenço, tiveram um importante e positivo papel.

Só o enfrentamento militar do 25 de Novembro pôs um ponto final às tentativas e aos projetos de uma ditadora de esquerda. Talvez por isso o PCP não participará na comemoração desta data. Foi o fim do PREC (Processo Revolucionário em Curso). Ramalho Eanes, um militar que seria mais tarde Presidente da República, foi figura determinante na operação do 25 de Novembro.

Esteve-se então à beira de uma guerra civil, mas os vencedores souberam tornar a vitória num impulso inequívoco à democracia pluralista, integrando forças políticas de direita e de esquerda, incluindo forças comunistas e da esquerda radical.

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  • António J G Costa
    22 nov, 2024 Cacém 17:44
    O 25 de Novembro colocou um fim à deriva revolucionária iniciada na revolução do 25 de Abril. Pelo meio evitou-se uma guerra civil. Segundo Henry Kissinger, esta guerra civil serviria de "vacina" para os países do sul da Europa. Felizmente Frank Carlucci e a CIA não foram dessa opinião. Enfim, como o tempo passa. São quase 50 anos, com o mundo em constante mudança.