09 dez, 2024
Há cerca de um ano que Javier Milei preside à Argentina. O seu maior encargo é combater uma violenta inflação que trouxe o país para a quase bancarrota. Milei é um fervoroso adepto da economia de mercado. O seu governo reduziu a despesa pública em quase um terço, fechou ministérios e outras entidades estatais, e conseguiu colocar a inflação em números menos estratosféricos – cerca de 3% por mês. O risco de bancarrota baixou.
A descida da inflação é socialmente benéfica, pois a alta geral dos preços afeta sobretudo as pessoas de baixos rendimentos. Mas um Estado digno desse nome é uma barreira contra a violência exercida pelos mais fortes.
O semanário The Economist louva a coerência de Milei, ao deixar funcionar os mercados, incluindo o mercado do comércio externo. Milei tem um zelo quase religioso pela liberdade económica, diz o Economist, que o compara a Margaret Thatcher. Qualquer restrição à livre empresa empurra a sociedade para o socialismo, afirma Milei.
No seu entusiasmo pela liberdade económica, Javier Milei detesta o Estado, que considera “uma violenta organização criminosa, vivendo de uma coerciva fonte de rendimento, chamada impostos, que faz lembrar a escravatura”.
É chocante este desprezo pelo Estado. Recordo-me de em 1975, em pleno PREC (processo revolucionário em curso), ter sentido a ausência do Estado como algo de muito negativo. Até porque quem mais sofre com a falta de um Estado digno desse nome são os mais fracos, que ficam expostos à violência – essa, sim! – das forças do mercado.
Claro que um Estado dominado por gente sem escrúpulos pode ser comparável à escravatura. Mas um Estado decente é a primeira barreira contra a violência dos mais fortes contra os mais fracos.