20 out, 2022 • Beatriz Lopes
Enquanto parte do planeta arde e outra inunda, a sociedade “finge que está tudo bem”. A comunicação social só noticia “quando o dinheiro ou um quadro de Van Gogh estão ameaçados”. A Europa “finge reduzir as emissões, enquanto exporta a sua produção para a China e os Estados Unidos”. E a indústria fóssil continua a lucrar “à custa de vidas e carteiras”. Quanto? 2,9 mil milhões de euros. “Não por ano, por dia”.
A mensagem de Ideal Rocha e Matilde Alvim, dois dos ativistas da Climáximo que, na passada segunda-feira, bloquearam as portas da Galp, em Lisboa, poderia resumir-se assim. Mas o que justifica que as ações de desobediência civil pelo clima estejam a aumentar e já levem a detenções de ativistas portugueses? Ideal, de 20 anos, foi um dos três jovens que foram levados para a esquadra de Benfica e é taxativo na resposta: a desobediência resulta e “nenhuma consequência de um tribunal se compara sequer às consequências de não fazer nada".
“Já assinámos petições, já fizemos manifestações às portas dos ministérios, o movimento ambientalista passou os últimos 50 anos a fazer isto e apenas houve o aumento de emissões. Nada mudou. Sabemos que a desobediência civil resulta. Foi através de ações de desobediência civil que conseguimos fechar as explorações de gás de Bajouca e de Aljubarrota. As próprias empresas, nos seus comunicados para o governo, admitiram que a razão para estarem a fechar é que o governo não as protegeu o suficiente da comunidade local- que fomos nós a agir”.
No Geração Z desta semana, puxamos a cassete dos últimos 15 dias. Em Portugal, mais de 20 ativistas bloquearam as portas da Galp. Já antes, 16 tinham invadido o Ministério da Economia. No Reino Unido, uma jovem portuguesa despejou garrafas de leite no chão e sobre prateleiras de duas lojas de luxo e dois ativistas atiraram sopa a Girassóis de Van Gogh. Na Austrália, outros dois colaram as mãos a um quadro de Picasso. Mas falamos também de assuntos que têm “menos cliques”: a morte de 1.700 ativistas ambientais na última década, os lucros multimilionários das petrolíferas e as situações extremas de seca, incêndios florestais e cheias que não têm paralelo na história.
Soluções para esta crise climática? Ideal Rocha e Matilde Alvim também as têm e não passam por “monoculturas de painéis solares no Alentejo contra a vontade das populações”. Algumas “são as que ninguém quer ouvir”. Outras, como as energias renováveis, são uma janela de esperança. Mas então e o custo para o Estado de 2.100 milhões de euros só com o encerramento das centrais a carvão de Sines e do Pego? O plano dos dois jovens ativistas também o prevê e, à primeira vista, traz uma boa notícia: “Não é o Estado que tem de pagar por esta transição”.
“Esta é uma luta pela sobrevivência”, sublinha Ideal Rocha. “Nós temos sete anos para mudar tudo. E se daqui a sete anos não atingirmos a neutralidade carbónica, as mudanças vão ser irreversíveis. Portanto, eu pergunto a toda a gente: Qual é o teu plano de sobrevivência? Porque se o teu plano é continuar a agir com normalidade, a fingir que está tudo bem, tu não vais sobreviver.”