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Graça Franco
Opinião de Graça Franco
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Opinião de Graça Franco

Preconceitos Bárbaros

15 dez, 2017 • Opinião de Graça Franco


Manuel Maria Carrilho foi absolvido de violência doméstica contra Bárbara Guimarães. Juíza diz que a violência doméstica não ficou provada. E afirma que a apresentadora de TV é "destemida", "dona da sua vontade" e não fez o que devem fazer as vítimas deste crime.

É óptimo que a juíza Joana Ferrer possa julgar em Liberdade. Ouvidas as partes, ponderadas as provas, nada nem ninguém, nem sequer a opinião publica, nem publicada, lhe possam turvar o raciocínio nem impor uma decisão fabricada por revistas de cabeleireiro nem opiniões de comentadores. É isso mesmo que se espera da independência de um juiz num Estado de direito. O problema é que também se espera que os juízes tenham, além de conhecimentos técnicos, experiência de vida, sabedoria, sageza e, sobretudo, uma dose reforçada de bom senso, coisa que à vista desarmada parece faltar-lhe. Pior do que isso é que à medida que vamos conhecendo decisões de múltiplos tribunais mais se intensifica esta sensação. Porque será que o sistema está a produzir estes espécimenes, cada um mais original do que o anterior? Não será urgente reformá-lo?

Não conheço o ex-ministro Manuel Maria Carrilho, com o qual apenas e raramente me cruzei na vida, e só conheço razoavelmente mal a minha ex-colega Barbara Guimarães da qual desconhecia integralmente a respectiva vida privada até ela ser revertida para os jornais e revistas “da especialidade”. Mas do pouquíssimo que sei da argumentação desta juíza para inocentar do crime de violência doméstica o ex-marido sinto-me habilitada a prestar-lhe pelo menos a minha solidariedade.

Um pai que sujeitou dois filhos a uma exibição pública do seu péssimo carácter, ao ponto a que o fez Manuel Maria, se não batia na mulher não é pelo menos minimamente competente para proteger os filhos de si próprio. Jogar com eles nas revistas, enganá-los publicando as respectivas declarações em tribunal, supostamente secretas, campear para diminuir a imagem da mãe de ambos de forma perversa, com puro egoísmo, não necessita prova, porque mesmo sem estar presente no julgamento e sem ouvir as partes, todos nós infelizmente “vimos, ouvimos e lemos” pelo que não é suposto podermos ignorar.

Mas há mais: a juíza, reverente acha que o senhor “professor” está perfeitamente integrado na sociedade. Que faria se não estivesse e não exibisse um notável distúrbio narcisista em todo esta caso. Não olhando a meios para atingir os fins, expondo os menores à destruição fria e cruel da imagem da respetiva mãe quando a ela se referia a qualquer bicho careta que o abordasse de microfone em punho com o intuito de ouvir Sua Excelência sobre a sua famosíssima ex-mulher.

Eu não sabia nem precisava saber (dispensava aliás essa informação abusiva) qual o passado traumático de Bárbara Guimarães, quer ele fosse real (ou sobretudo se o fosse…) ou meramente inventado (como suspeito que tenha sido, mas até a juíza parece ter acordado para a vida quando reconheceu que existiu difamação e por isso o puniu). Neste caso, como não li a sentença e falo apenas com base no que a imprensa reporta, não creio que precise mais para concluir que a “Julgadora” devia ao caso estar impedida de julgar.

Não, não penso isso por estar implícito que iria de alguma forma beneficiar o potencial infractor pelo porte majestático ou pelos seus pergaminhos culturais, mas porque a meritíssima parte de premissas que mostram desconhecer em absoluto o mundo de circunstâncias que impedem uma mulher (por mais culta, independente, autónoma e moderna que seja…) de fugir das garras de um qualquer “professor”, de tiques manipuladores, para cúmulo ex-ministro, admirado pelos respectivos alunos e com fama de filósofo, indo à polícia (pela calada da noite) com uma filha ao colo e um filho pela mão acusando o emérito catedrático e membro da elite dirigente de agir como um vulgar carroceiro, com a agravante de parecer meio louco e capaz de a matar.

O senhor polícia pode muito bem raciocinar como a juíza e pensar simplesmente que isto de cultura é sinónimo de civilização, pelo que o caso não sendo provável é, no mínimo, muito pouco credível. “Então a D. Bárbara quer que eu acredito que linda e famosa o senhor professor é capaz de a tratar mal? Isso não se pode resolver dentro de casa?”. Volte lá para a sua casinha e veja se passa sim…

Acha a senhora juíza que a “determinação e independência da vítima e a sua autossuficiência em termos financeiros” a faz ultrapassar a gritaria caseira (os insultos, as ameaças, a manipulação das crianças, a violência psíquica que mata a sua autoestima antes mesmo de lhe infligir a morte física (do conhecimentos de amigos e de próximos, que se consideram incapazes de combater o inferno por mais que aconselham que se afaste dele) e basta para a tornar capaz de abrir a porta sem a vergonha que os vizinhos se deem conta e os filhos se apercebam do caracter do pai, pegar nas malitas e partir tranquilamente deixando o filosofo a falar sozinho…

Se a senhora juíza acha assim é porque a respetiva formação sofreu do défice de conhecimento da vida (não das celebridades e das revistas), mas da vida comum.

Queira V. Excelência meritíssima que me parece que comigo concordaram, graças a Deus, alguns dos seus colegas que ainda há pouco tempo condenaram o mesmo indivíduo a uns quatro anitos de prisão com pena suspensa… por um caso não muito diferente. Talvez enquanto ex-marido a coisa tenha piorado um bocadinho, mas saber disso não a fez pensar umas duas vezes? Sei que pediu para ser afastada do caso pelo que a culpa não terá sido inteiramente sua…. Deve ser do sistema. E ninguém muda a sistema? Se nem a Bárbara Guimarães foge à regra do preconceito cultural ou elitista, o que se passará com as outras mulheres vitimas de violência doméstica em pleno século XXI?

Gente culta e moderna e bem na vida, vítima de violência doméstica, fica a saber, por muito que tema pelo futuro dos filhos e o próprio (não diz aos amigos, não conta aos colegas, não recorre aos vizinhos …) que isso não serve para nada anda sempre com o telefone da APAV no bolso. Senão, corre o risco de apanhar do marido e apanhar não só com uma (má) polícia na esquadra, mas, chegados a tribunal, com uma juíza assim.

Comentários
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  • Carlos
    19 dez, 2017 Porto 19:43
    Boa amiga mas imagine não ter afinidade com nenhum deles.
  • Joana
    18 dez, 2017 Lisboa 21:57
    Pior são os comentários censurados por Graça Franco, só porque dizem mal do texto. Isto mostra algum desespero por parte de Graça Franco.
  • De Cabeça
    18 dez, 2017 lisboa 17:56
    A Drª Graça Franco desiludiu-me bastante com este texto. A juíza, que apenas responde por este caso (e não por outros recentes mal decididos) foi clara: nada ficou efetivamente provado, por ausência de testemunhos ou provas forenses. Não há como dar a volta a isto .... e um juíz não pode presumir.
  • Bruno
    18 dez, 2017 Lisboa 08:50
    Texto muito fraco.
  • Teresa Pereira
    17 dez, 2017 10:49
    Obrigada Graça Franco!
  • Manuel
    17 dez, 2017 Senegal 10:26
    É óptimo que a juíza Joana Ferrer possa julgar em Liberdade. Ouvidas as partes, ponderadas as provas, nada nem ninguém, nem sequer a opinião publica, nem publicada, lhe possam turvar o raciocínio nem impor uma decisão fabricada por revistas de cabeleireiro nem opiniões de comentadores. - Não conheço o ex-ministro Manuel Maria Carrilho, com o qual apenas e raramente me cruzei na vida. - Conheço razoavelmente mal a minha ex-colega Barbara Guimarães da qual desconhecia integralmente a respetiva vida privada até ela ser revertida para os jornais e revistas “da especialidade”. A dona Franco é sem dúvida nenhuma, atrasada mental. Se querem saber quem tem razão neste processo todo perguntem a quem mais sofreu com tudo isto, e esses, são os filhos do casal. Assim se acabariam as especulações. Parabéns á Sra. dra. juíza Joana Ferrer.
  • Maria Juana
    17 dez, 2017 Porto 01:19
    Aconselho a todos, jornalista e meretíssima incluídas a ver 2 filmes. Podem começar pelo "the war of the Roses", para perceberem a escalada da violência doméstica depois podem passar para outro tipo de violência, a psicológica. Muito mais subtil, muito eficaz para o agressor e muito difícil para os Meretíssimos entenderem! Vejam Gaslight (1944, Ingrid Bergman)! Nada mais de acordo com os tempos que correm!
  • Domingos Pires
    16 dez, 2017 Lisboa 19:04
    Lamento o artigo da Drª. Graça Franco. Dá-me ideia que deve ter consultado o espaço etéreo para concluir pelo ataque que faz à Srª. Juiza Joana Ferrer. Esta é uma das muitas que vai pelas revistas "cor de rosa" e pela canalha que as alimenta para impressionar o público leitor e condicionar aqueles que pensam pela sua cabeça. Então é dignificante que a Srª. Bárbara Guimarães faça vida de folclore permanente e se refugie nas bebedeiras e afecte o património de um número significativo de proprietárina de viaturas ???? Éesta a moral da Drª. Graça Franco ? Se tivesse mais cuidado e fizesse uma reflexão fria das situações expostas, talvez ficasse melhor na fotografia, e não cairia na tendência fácil de vir defender o indefensável. Presto a minha sincera homenagem à Distinta Magistrada pela Sentença que proferiu. Bem haja pelo trabalho que produziu e que não se deixou enganar pelos artifícios malaberistas de alguns comentadores da n/praça. Domingos Pires
  • José Armando
    16 dez, 2017 Leiria (distrito) 17:27
    Admitindo que o texto anterior passe, esqueci um pormenor que acho da máxima relevância: quando os advogados de Bárbara Guimarães souberam quem seria a juíza, tentaram afastar a mesma do processo. A pergunta, óbvia é, porquê? Permito-me uma especulação: porque sabiam que a juíza não se deixaria influenciar pelo circo mediático montado pela defesa de BG. E pela própria BG, que dizem ser "um animal televisivo".
  • José Armando
    16 dez, 2017 Leiria (distrito) 17:04
    Com toda a consideração a Graça Franco deve manter o seu foco na política, nada de digressões preconceituosas sobre os preconceitos dos outros. Prestei uma atenção mínima a todo o circo montado pela Bárbara Guimarães, abusando da incrível publicitação de um certo tipo de castração informativa. O Carrilho era o mauzão e a BG a martirizada esposa do monstro, um foleiro roteiro de telenovela de cordel. A Graça Franco censura a juíza de falta de vivência, isto é, de não ter quem lhe chegue a roupa ao pelo. Tenho a experiência e a certeza de nunca ter a mínima violência física, nem com um dedo, já não tenho a certeza de, pontualmente, não ter havido "violência psicológica" na relação. Violência doméstica em casais famosos? Na maior parte dos casos não passa de show-off mediatico por parte do chamado elemento fraco, a mulher, a outra face do mesmo show-off quando tudo é cor-de-rosa. Estou à vontade: sou visceralmente contra qualquer forma de violência por uso da força ou do poder em qualquer tipo de relação e não tenho a mínima contemplação para a ternurenta justiça que encontra sempre atenuantes "passionais" para alijeirar as penas, mesmo quando se trata de roubar uma vida, o crime que considero sem perdão. Ao contrário da Graça Franco, li o acórdão, a fundamentação da juíza resulta de testemunhos que o tribunal considerou credíveis, incluindo uma relação afetiva forte - "ancora", assim é considerada. A GF sabe o que é uma âncora? - entre pai e filhos. Cumprimentos.