09 jul, 2019
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Na Renascença, em resposta às questões colocadas no programa "As 3 da Manhã", Costa foi desafiado, na segunda-feira, a classificar quatro anos de Governo da "geringonça": “suficiente, bom ou excelente?”
O primeiro-ministro pensou um segundo, mediu as palavras, e não hesitou: "Bom", respondeu. Diríamos que a classificação soou a pouco. Pareceu mesmo "Extremamente Desagradável", como diz a Joana Marques. Miguel Coelho insistiu e estendeu-lhe a bóia: "Bom? Mas… não 'Excelente'?" Mais rápido e seguro do que antes, o entrevistado repetiu: "Bom". Só faltou acrescentar a frase típica dos divórcios amigáveis: “Foi bom... enquanto durou.”
Já não dura. Costa pode vir a ter de partilhar de novo a casa com Catarina Martins, e aceitar o voto orçamental de Jerónimo, que neste casamento de conveniência foi uma espécie de “sogro rabugento”, mas ficou clarinho que a paixão, se existiu, já acabou (não há mais forma de aceitar o jogo do empata com a Lei de Bases da Saúde, por causa dos 4% que representam as Parcerias Público-Privadas, nem paciência para ouvir as insinuações de que se Azeredo Lopes conhecia os planos do “achamento de Tancos” os partilhou certamente com o primeiro-ministro, e menos ainda para as acusações de que Centeno cortou investimentos para brilhar em Bruxelas).
Venha a maioria absoluta ou o “quase-quase” e Costa mais rapidamente aceitará o abraço de Rio ao sorriso de Catarina. Resta saber se, nessa altura, o Rio ainda corre para os lados da S. Caetano. Mas, fora isso, nada obstará à aproximação.
Difícil, aliás, começa a ser encontrar as diferenças. Uma única coisa Costa não fará: voltar a “flirtar” com Cristas. A irritação entre ambos, que tanto dói a Marcelo, tornou-se quase “irracional”. Não haverá lugar para o queijo Limiano.
E se Costa parece ansioso por partir finalmente sozinho em campanha, em que estado deixa a Geringonça a Nação? Comecemos pelas boas notícias:
O pior é que, passada a anestesia estival, o país voltará ao normal. Em Faro, qualquer peixe-aranha levará o incauto a gastar um dia de férias na urgência, uma cólica renal pode acabar no hospital de Beja, um braço partido implicará um regresso a Lisboa antecipado e uma coisa ligeiramente mais grave numa viagem de helicóptero para um heliporto mais próximo. Se houver transporte -- e médico.
Listemos, por final, o ainda menos bom:
Em termos sociais: os professores perderão a paciência a preparar o ano, porque a verba para consertar o telhado da escola ou o piso do recreio já foi desbloqueada, mas o concurso não avança. Os barcos da Soflusa continuarão entre avarias e guerras de mestres. Ainda mais exaustos, os enfermeiros continuarão sem compressas e os médicos sem meios de diagnósticos. As famosas 167 vagas para técnicos, por dez vezes anunciadas, continuarão por preencher. Os professores universitários, os alunos sem bolsas e os investigadores à beira de perderem milhões em bolsas que lhes custaram sangue, suor e lágrimas a conquistar, estarão à beira de novos ataques de nervos.
A classe média asfixiada por impostos, mas habituada a votar com a carteira, prepara-se para a abstenção. Vendo bem, seja qual for o seu voto pagará menos impostos. O PS advoga o crescimento dos salários médios e lembra que a classe média, este ano, já pagou "menos mil milhões" do que em 2015 (de que século?). Não se prometem descidas da carga fiscal, mas ela vai descer paulatinamente até 2023. Rio, embora ainda não tenha estudado os escalões do IRS, jura que “os do meio” serão desagravados (logo se verá quando e quanto).
O IVA da eletricidade descerá também para 6% -- coisa que muito escandaliza Catarina Martins, que acha que o PSD era contra a medida só porque os sociais democratas votaram contra o Orçamento deste ano, onde o Bloco previu a descida da taxa só para potências instaladas tão baixas que praticamente apenas davam para acender a luz enquanto não se procurava uma lanterna a pilhas. Em 2020 espera-se abranger, pelo menos, com a mesma medida quem já tem fogão, televisão e máquina de lavar ligadas à rede. E tudo com a luz acesa.
E no mais, qual o Estado da Pátria? Crescemos. Mas pouco. Convergimos. A passo de caracol. E enquanto Lisboa atinge a média comunitária, a região Norte fica-se por 65% (dados de 2017). No máximo em 2023 estaremos a crescer 2,1%, segundo o PS, e 2,7% nas contas de Rio, o que dará “uma margem de manobra na ordem dos 15 mil milhões para afetar a novas prioridades políticas”, diz o líder social-democrata.
Devia ser isso que devíamos estar a discutir agora? As diferenças de prioridades? Sim. Mas, pelo sim pelo não, achamos mais útil ir a banhos. E vamos.