26 jul, 2019
Esta sexta-feira, o ministro Eduardo Cabrita, depois de recusar responder às perguntas colocadas pela jornalista da Renascença e por outros colegas de televisão, esperou que as luzes se apagassem e, já com os microfones desligados, mimoseou os repórteres com o epíteto de “cobras”.
O comentário, em tom suficientemente audível para alguns, tecido na sequência de acusações de “alarmismo”, constituiu evidente desrespeito por quem exerce seriamente a respetiva profissão e coloca as perguntas necessárias, por mais incómodas que estas possam parecer, a quem tem o dever de lhes dar resposta.
O ministro da Administração Interna, cuja vida não tem sido fácil nas últimas semanas, comportou-se de forma igualmente deselegante com o repórter da SIC, afastando-lhe o microfone de forma grosseira e acusando-o de estar também a utilizar “material inflamável”. Pequena diferença: o microfone usa-se para captação de som e uma gola antifumo que é suposto servir num cenário de fuga a um incêndio não pode obviamente ser de poliéster.
Eduardo Cabrita tentou dificultar o trabalho dos jornalistas no terreno e além de os insultar em trabalho insinuou, como quem dá lições de civismo, desta vez “em on”, que não estavam a ser “nem sérios nem responsáveis”.
Ironia máxima: o Governo estava a ser confrontado com o facto de o Estado ter desbaratado cerca de 300 mil euros dos nossos impostos em dois contratos com uma empresa do marido de uma autarca apoiada pelo PS, que foi contemplado com duas adjudicações “por consulta prévia” depois de ter constituído, poucos meses antes da adjudicação, uma jovem empresa no ramo de restauração e aventura. Convenhamos que só a muito custo a dita empresa se pode enquadrar neste domínio.
Ou seja, o ministro estava a ser questionado sobre a seriedade de um processo duvidoso e a responsabilidade de um gasto absolutamente questionável. Gastar 300 mil euros só para “sensibilizar” não vos parece dinheiro a mais?
Imaginemos uma série de velhinhos a combater o fogo nos respetivos quintais protegidos do fumo por golas de poliéster. Para exemplo de campanha responsável não está mau.
O ministro da Administração Interna, mesmo sem o querer, mostrou, na sua arrogância e falta de cultura democrática, o que pode constituir a prática corrente de um futuro não muito longínquo. Basta lembrar a célebre frase de Jorge Coelho “Quem se mete com o PS leva” num contexto da já mais do que provável maioria absoluta.
Para o Governo este é “um não-caso”. Os kits distribuídos no quadro dos programas "Aldeias Seguras" e "Pessoas Seguras" são kits de demonstração sem qualquer valor de proteção pessoal como insiste a Proteção Civil.
E nós somos todos parvos? As lanternas também não dão luz? Os rádios não funcionam?
Vamos só pensar dois minutos: o Governo faz uma grande campanha contra a propagação da SIDA e fornece um kit onde, para ilustrar a necessidade de sexo “seguro”, fornece uma embalagem de preservativos furados. Se existir um 'boom' de gravidezes indesejadas, vem depois dizer candidamente que não eram “obviamente” para utilizar?
Ou uma campanha nos aeroportos para os viajantes que se dirigem a zonas de risco de cólera e inclui uns comprimidos “a fingir” que são reais desinfetantes da água. Isto faz algum sentido? Quem é que está a ser pouco sério e completamente irresponsável?