30 jun, 2020
Pedro Nuno Santos que é um ministro que oscila entre o desastrado e o “irritantemente optimista”, no caso da TAP, afirmou esta terça feira: O Estado português está completamente à vontade,"
Para qualquer observador de bom senso, e a menos que nas próximas horas algo de muito surpreendente aconteça nas negociações entre a Parpública (que representa a maioria de capital público sem direito a mando) e os accionistas privados, o Estado está entre a espada e a parede, à beira de se meter num enorme buraco. Muito provavelmente maior que o do Novo Banco.
Como aqui escrevi a 20 de Maio, ou o ministro “deixava de brincar com aviões” ou acabávamos a criar um "novíssimo banco". Nessa altura comentava o despropósito do ministro das Infraestruturas ameaçar os sócios privados com a insolvência da companhia, colocando essa solução verdadeiramente catastrófica para o país, com toda a naturalidade, em cima da mesa, como se pudesse ser encarada como uma solução como outra qualquer.
Naquele seu habitual jeito “do agarrem-me senão ainda faço um disparate", o ministro comentava a possibilidade de deitar tudo a perder e nem sequer poder partilhar a asneira com o Governo anterior porque, desta vez, o desastrado negócio com a os actuais accionistas foi obra da inteira responsabilidade do partido socialista. O anterior Governo, bem ou mal (e, na minha análise, mais mal do que bem) tinha, apesar de tudo, deixado o problema resolvido e foram os socialistas a desenterrá-lo.
Entre 20 de Maio e hoje, o ministro alguma coisa aprendeu, mas não resolveu o problema. Aprendeu, sobretudo, que com aviões não se brinca. E não se brinca quando do outro lado está um parceiro que já anda neste negócio de “salva empresa" e “mata empresa” há tempo demais. Trata-se de alguém que consegue impor clausulas contratuais como "podes ser accionista maioritário, mas quem manda sou eu" ou "se por acaso quiseres ficar com mais acções ainda vais ter de me pagar tudo o que meti aqui". Não são provas de boa fé negocial, mas também não demonstram grande estupidez. Pelo contrário, quem as aceita pode estrebuchar, mas, se a coisa correr mal, nunca vai “estar à vontade” como o ministro insiste que está.
Quem em Maio achava poder deixar cair a companhia, disse ontem no Parlamento que, obviamente, isso não é solução. Porquê? Exactamente pelos motivos que já em Maio o mesmo texto lembrava e que qualquer observador minimamente consciente reconhecia: a TAP é só uma das maiores exportadoras nacionais, paga cerca de 300 milhões de impostos em Portugal e isso não é o mesmo que pagá-los na Holanda, as suas compras mantêm a funcionar uma inumerável cadeia de empresas nacionais que cairiam com ela como um castelo de cartas. E para cúmulo, emprega directamente 10 mil pessoas, que também pagam imposto se estiverem empregadas e passam a receber subsídio se forem para o desemprego. Goste-se ou não, a TAP é como ontem reconhecia o próprio ministro, “to big to fail”.
Assim, em vez de se pegar o touro de frente, a única estratégia negocial é a cernelha, se não se quiser sair demasiado magoado do confronto. Pedro Nuno Santos não tem grande jeito para este tipo de estratégia e tem mesmo uma certa tendência para a provocação. Pelos vistos, por mais irritante que nos pareça que alguém possa ter a lata de, ao mesmo tempo que pede emprestado ao Estado 1.500 milhões ainda diga, como quem está disposto a fazer um grande favor, que admite partilhar com o accionista maioritário e emprestador uma posição mais activa gestão de empresa, não há maneira senão fingir que nem se ouviu a provocação, mas não responder com outra, sobretudo, quando se fica sujeito a uma batalha judicial interminável com risco de a perder.
Por outro lado, o ministro fanfarrão também escusava de nos vir repetir que em Bruxelas aceitou um péssimo negócio porque, em rigor, não tinha alternativa. Já sabíamos. Se a TAP em 2018 não teve lucros e o ano passado (sem covid) já tinha tido, no primeiro trimestre, mais de cem milhões de euros de prejuízo os trezentos deste ano correspondem a uma degradação da situação verificada nos dois anos anteriores, mas não se pode dizer que não era coisa expectável. O pior é que António Costa tinha escondido esse desastre aos portugueses e o grande negociador da solução conseguida é nada mais nada menos que um seu actual colega de governo e actual secretário de estado das Finanças.
Nacionalizar a empresa será uma pequena grande desgraça desnecessária e inteiramente da responsabilidade socialista. Mas a solução pode ser mais ou menos penosa e o processo mais ou menos caro e mais ou menos “ridículo” porque o ridículo mata.
E para ridículas já temos as outras declarações do senhor ministro, esta semana. Confrontado com a sobrelotação dos comboios de Sintra, provada por abundantes fotos e vídeos de comboios à pinha, fez umas contas dividindo o número de lugares de todos os comboios pelo número de passageiros de todas as viagens para concluír pela seguinte verdade: não há comboios sobrelotados, é questão de as pessoas viajarem a horas diferentes. Pois! A isto chama-se um executivo de contas certas e “fanático da aritmética”.