04 mai, 2022 • Olímpia Mairos
O comentador d’As Três da Manhã considera que a retirada da expressão ‘doença fatal’, no projeto lei do PS, como condição para pedir a eutanásia, torna tudo mais complexo.
“As sucessivas propostas de leis que são apresentadas mostram que é impossível fazer uma lei sobre a eutanásia, porque é impossível definir o que é que é a dor intolerável, porque depende de cada um de nós”, argumenta Henrique Raposo.
Para o comentador, “é impossível criar uma lei universal” porque “uma lei tem que ser universal e tem que haver um padrão universal, e é impossível. É impossível definir o que é que é a dor”, porque cada pessoa tem o seu próprio termómetro de dor.
“É impossível criar uma lei que permita que isto aconteça de forma civilizada”, prossegue, assinalando que nos países onde a eutanásia já foi aprovada, na Bélgica e Holanda, “há pessoas que usam isto e invocam que têm depressão ou que vivem com uma ansiedade extrema. E não estamos a falar de idosos, estamos a falar de jovens”.
Já sobre as formulações que o texto dos socialistas agora usa como doença grave, incurável, que ameaça a vida, irreversível, que origina sofrimentos com grande intensidade, Henrique Raposo lembra que qualquer doente oncológico entra nessa categoria.
“Qualquer doente oncológico, consiga ele superar ou não o cancro, está nessa categoria durante, pelo menos, um espaço de tempo bastante longo. E se esta lei é aprovada, em vez de tentar superar o cancro, vamos ter pessoas que, com esta lei, vão ter a tentação de desistir”, alerta.
Henrique Raposo não antecipa o que o Presidente da República poderá fazer agora, perante este novo projeto, caso seja aprovado no Parlamento, mas espera ouvir Marcelo como católico, e que, “por princípio, à partida, tem que estar contra qualquer lei de eutanásia”.
Por princípio, devíamos estar a discutir porque é que o SNS está o caos que está aí e, por inerência, deixa os mais fracos e os mais velhos para trás, porque é que é tão difícil arranjar um lar em Portugal, em vez de estar a abrir este alçapão, que é mesmo uma caixa de Pandora.
“Uma lei que permita a eutanásia; que um cidadão tem o direito de achar que o Estado tem o dever de matar, se ele pedir. É uma inversão total daquilo que são os princípios constitucionais da relação entre o Estado e a pessoa. E está a acontecer sem um debate sério na sociedade portuguesa”, assinala.
Segundo Henrique Raposo, muitos pensam que a eutanásia é desligar as máquinas e tal pensamento não está certo.
“Isso não é eutanásia, é impedir a distanásia. Se uma pessoa está mesmo às portas da morte e só está na vida por causa das máquinas, desligar as máquinas é aquilo que deve ser feito. A eutanásia é dar uma injeção letal”, conclui.